Os cristais e as pedras preciosas enobrecem o luxo e são a expressão mais pura da energia e da luz. Fisicamente, está provado: são
ótimos condutores e amplificadores de algumas ondas de energia. Por isso, são utilizados em transmissões de fibra óptica, na composição de chips e na fabricação de relógios. Além dessa versatilidade artesanal e industrial, terapeutas usam essas belas peças em meditações e para transmitir energias restauradoras a pessoas e ambientes. Sozinhas, não promovem a cura ou alteram quadros físicos ou psicológicos, é bom deixar claro, mas atuam como um poderoso auxiliar em todos esses processos terapêuticos. Dentro desse contexto, o Brasil poderia se dar muito bem. Nosso solo, sobretudo o da divisa dos Estados de Minas Gerais e Bahia, é riquíssimo em pedras. Mas o País perde grande parte dessa riqueza por não criar estrutura para exportar todo esse material lapidado, beneficiado e com valor agregado. Além disso, o volume de pedras preciosas retirado do Brasil nas rotas de contrabando, sem qualquer cobrança de imposto ou benefícios para os trabalhadores do setor, é brutal. Lá fora, são trabalhadas e atingem valores astronômicos.

Conforme seu tamanho e cor, cada cristal, pedra e gema tem uma propriedade específica. Um aglomerado de cristais com inúmeras pontas é excelente para a energização e limpeza de ambientes. Os cristais coloridos ou pedras de menor valor são usados para tratar outros problemas. A simples contemplação de um cristal de quartzo, com sua pureza e beleza, transmite a sensação de paz e equilíbrio físico. Um importante especialista no assunto, o professor e pesquisador Rainer Schultz, do Instituto de Geociências da USP, um alemão radicado há 28 anos no Brasil, confere ação terapêutica às pedras preciosas. “Cada coisa que traz beleza tem um efeito psicológico. Um quadro bonito eleva a pessoa para além do cotidiano. Do mesmo modo, um belo cristal, quando olhado de perto, pode transmitir a força da natureza. Se você acha uma pedra linda, seu sentimento se eleva”, explica ele. Esse “elevar” vem primeiro da beleza da pedra límpida, translúcida. Em seguida, o encanto é reforçado pela cor. A mais cara, confirma Schultz, é o diamante, que aparece em solos privilegiados como o de Diamantina, em Minas Gerais, e em algumas regiões da Bahia.

O pesquisador defende a criação de pequenas comunidades produtoras, com formação técnica e orientação, para evitar que as famílias descobridoras vendam o material aos quilos e a preços muito baixos. Em geral, esses trabalhadores ganham a vida com as pedras, não sabem como tratá-las e acabam se contentando com uns trocados. O ideal seria agregar valor para vender as preciosidades em patamares igualmente preciosos. Mesmo assim, as exportações brasileiras cresceram de 2004 para 2005. Passaram de US$ 6,7 bilhões (R$ 14,47 bilhões) para US$ 7,3 bilhões (R$ 15,77 bilhões). “Se o governo incentivasse a instalação de mil ou duas mil pequenas fábricas de lapidação no País e ensinasse o pessoal a lapidar pedras, não teria mais pobres nessas regiões”, acredita Schultz.

Comprar aqui, por uma ninharia, pedras brutas depois enviadas para lapidações na China e na Índia, capazes de levá-las a altos preços no mercado internacional, é algo incompreensível para esse professor alemão que ama o Brasil e não pretende retornar ao seu país. Exemplos de cotações estratosféricas atingidas por esses materiais depois de trabalhados não são raros. Num leilão na Suíça, em fevereiro passado, um anel de rubi bateu um novo recorde mundial com um preço estupendo: US$ 3,637 milhões (R$ 7,86 milhões) ou US$ 425 mil (R$ 918 mil) por quilate. Três meses antes, a quinta maior pérola do mundo foi vendida a um negociante particular asiático, num leilão da Christie’s de Genebra, por US$ 2,51 milhões (R$ 5,42 milhões). A propósito, um detalhe, digamos assim, precioso: a jóia foi um presente do imperador Napoleão Bonaparte à sua segunda mulher, a nobre Marie-Louise.

Outros episódios históricos têm como protagonistas essas preciosidades. O famoso lustre presente no musical O fantasma da ópera é feito com 20 mil contas de cristais octagonais da linha Strass Swarovski. Possui mais de cinco metros de altura, quatro metros de largura, 2,3 toneladas de peso e valor estimado em 730 mil libras (R$ 3,5 milhões). Tamanha opulência tem seu propósito: o lustre tem um importante papel na história quando, em um momento dramático, no auge dos acontecimentos, ele desaba e deixa a Opera House em chamas.

Mas se o imperador Napoleão tivesse oportunidade de conhecer a zultanita (o nome homenageia os 36 sultões fundadores do Império Otomano no final do século XIII), certamente a sua amada Marie-Louise ganharia dois presentes. A pedra foi encontrada pela primeira vez no final dos anos 70, numa região montanhosa da Turquia. Sua propriedade mais desconcertante é a capacidade de mudar de cor conforme a luz incidida sobre ela. As maiores e com uma tonalidade mais escura se alteram com maior freqüência, do verde intenso para o rosa púrpura. Por causa de sua exploração difícil, a produção nos últimos anos caiu drasticamente e foi direcionada para colecionadores. Pois a zultanita já está nas mãos de um grande grupo, a empresa Zultanite Gems LLC, criada na Flórida em 2005 para explorar a pedra.

Com todas essas histórias de luxo, é de surpreender que Antuérpia, na Bélgica, um dos maiores centros de diamantes do mundo, passe por momentos difíceis. Nos últimos 30 anos, outros centros absorveram o trabalho de lapidação que já empregou milhares de pessoas por lá, deixando para a cidade a mera comercialização de diamantes brutos. O Brasil vê esse filme todos os dias.