Nas quadras, Lauren Jackson é um espetáculo. Considerada a melhor jogadora de basquete do mundo, a pivô australiana foi peça fundamental na bela campanha da seleção de seu país no Campeonato Mundial Feminino de Basquete, disputado em São Paulo. É a cestinha da competição, com média de 22,5 pontos por partida, e também uma das principais pegadoras de rebote. Talvez não fosse necessário, mas, fora das quadras, Lauren Jackson, 25 anos, é igualmente um espetáculo. A pele lisa e clara, os longos cabelos louros e as curvas bem delineadas num corpo de 1,95 m de altura deram a ela os títulos antecipados de musa do campeonato e estrela da festa.

Até os jornalistas sofreram com o assédio à jogadora. Quase sempre, precisavam disputar espaço ao seu lado com fãs que se acotovelavam em busca de autógrafo. Numa das primeiras partidas da Austrália no Mundial, um brasileiro levou um cartaz imenso para a arquibancada. “Lauren, você quer casar comigo?”, perguntava o fã. Depois do jogo, a pivô deu um abraço carinhoso no torcedor, mas jogou uma ducha de água fria em suas pretensões. “Estou atrás de um brasileiro com pelo menos 1,98 m de altura”, brincou ela. Neste Mundial, Lauren castigou a seleção brasileira em duas ocasiões. Na primeira, no domingo 17, fez 21 pontos na vitória australiana por 82 a 73. Na semifinal da quinta-feira 21, marcou 19 dos 81 pontos australianos (o Brasil fez 76) e ajudou sua seleção a tirar os donos da casa da final, no sábado 23.

A carreira de Lauren foi marcada pela precocidade. Na primeira convocação para a seleção australiana, tinha apenas 16 anos. Em 2000, conquistou a medalha de prata nos Jogos de Sydney, sua cidade natal. Quatro anos depois, semanas antes de ganhar novamente a prata, desta vez em Atenas, posou nua para a revista artística Black+White. O belíssimo ensaio consolidou de vez o seu status de musa global. Ela não chega a abrir mão dos benefícios gerados pela beleza incomum, mas sempre que pode destaca que o mais importante é o desempenho esportivo. “No mundo, recebo mais atenção pelos ensaios fotográficos. Mas na Austrália sou antes de tudo alguém importante para o basquete”, diz ela. “Acho bom que as pessoas de meu país pensem assim”, completa. As fotos da Black+White e de outros ensaios não produziram apenas reações positivas. Em Seattle, nos Estados Unidos, cidade do Storm, time em que ela joga pela liga americana de basquete feminino, a WNBA, foi acusada de misturar esporte e sensualidade de forma equivocada. A jogadora deu de ombros. “Foi algo normal. Não consigo imaginar uma justificativa para esse tipo de comentário”, rebateu. Ela também está atenta às possibilidades de lucro com o marketing. É patrocinada pela Nike e mantém há anos um gordo contrato publicitário com a fabricante de automóveis Toyota.

Os feitos da australiana com a bola de basquete na mão justificam seu desejo de ser reconhecida em primeiro lugar pelo talento. Lauren disputa a liga dos Estados Unidos desde 2001. Foi a jogadora mais jovem a ser escolhida a melhor da competição americana, com 22 anos, em 2003. No ano seguinte, conquistou o título da temporada. Em seis anos de WNBA, fez 3.438 pontos, 595 deles só neste ano. Não bastasse, pegou 1.005 rebotes defensivos e 435 ofensivos.

No plano esportivo, o Mundial realizado em São Paulo está próximo do ideal. Mas, infelizmente, o mesmo não se poder dizer em relação à organização. Dirigentes da Federação Internacional de Basquete (Fiba) criticaram duramente o fato de não ter sido feito um plano para levar torcedores em grande número aos jogos, sobretudo os que não envolveram o Brasil. Uma partida teve apenas sete pagantes. “Muitas coisas poderiam ter sido feitas junto às escolas e às comunidades de São Paulo para que o público fosse maior”, lamentou o secretário geral da Fiba, Patrick Baumann. “Em uma cidade de 12 milhões de habitantes, não deveria ser um problema termos dez pessoas em um ginásio, mesmo durante a semana. O público foi muito abaixo do esperado. Nas Olimpíadas de Atlanta, há dez anos, o basquete feminino levou 300 mil pessoas aos jogos. Neste Mundial, a estimativa é de 25 mil em todas as partidas somadas”, completou ele. As goteiras no Ginásio do Ibirapuera também irritaram os cartolas, que cogitaram transferir a partida final para Barueri, na região metropolitana de São Paulo. Na reta final do campeonato, muitos chamavam o espaço de Goteirão do Ibirapuera. Na quadra, a seleção brasileira perdeu para a Austrália com dignidade. Mas essas outras derrotas não deixam de ser constrangedoras.