Falar em público, fazer prova na faculdade, enfrentar fila de banco, pisar um shopping lotado ou viajar. Essas são situações angustiosas e torturantes que demandam esforço psíquico e sacrifício físico para uma considerável parcela da população mundial – aquela que sofre de ansiedade e de fobia social e tende a abastecer cada vez mais o organismo com antidepressivos e tranqüilizantes. Agora, imagine: diante dessa insegurança que gera suor nas mãos, taquicardia, sensação de “perda” do corpo e de possuir na garganta uma “bola que sobe e desce”, o portador dessa doença tira um spray do bolso e, depois de duas borrifadas nas narinas, tem plenamente recuperada a autoconfiança. Pois bem, neurocientistas suíços da Universidade de Zurique anunciaram na semana passada a descoberta desse spray, à base da substância ocitocina, hormônio natural responsável por diversas funções, entre elas a de regulador do afeto.

A ocitocina age diretamente na amígdala, uma porção pequena mas poderosa do cérebro que se relaciona ao medo e às fobias. Para perceber a exata atuação desse hormônio, pesquisadores testaram- no em um grupo de voluntários, dando o spray a alguns deles e a outros um placebo. O teste era um jogo de confiança: eles teriam de dar dinheiro a uma pessoa para ser aplicado no mercado financeiro e ela retornaria ou não os seus lucros. Os participantes que tomaram ocitocina continuaram investindo, mesmo ao saberem que os outros arcaram com prejuízos.

O cérebro dos voluntários foi monitorado. Quem inalou ocitocina apresentou menor atividade da amígdala, ou seja, o medicamento funcionou inibindo a hiperatividade dos neurônios. “A ocitocina diminui as funções do sistema de medo, que é ativado durante uma situação de interação social”, disse de Zurique à ISTOÉ Thomas Baumgartner, coordenador da pesquisa. “Uma das causas que disparam o medo em pessoas com fobia social é o mau funcionamento e a hiperatividade da amígdala.” Com essa parte do cérebro trabalhando sem parar, os portadores da enfermidade têm medo excessivo diante da interação social. “O hormônio age para diminuir o medo ou a timidez que as pessoas têm em uma situação social que envolve um certo risco”, disse à ISTOÉ Maurício Delgado, neurocientista e professor da Rutgers University, nos EUA.