Fundado em 1988 em Iperó, interior paulista, o Centro Experimental de Aramar, da Marinha, que em poucos anos capacitou o Brasil a dominar o ciclo de enriquecimento de urânio e desenvolveu o protótipo de um reator nuclear para um submarino de propulsão nuclear (SNA), está ameaçado de fechar as portas. A decisão da Marinha de construir, num futuro próximo, mais quatro submarinos convencionais, modernizando e padronizando os cinco já existentes, da classe “Tupi”, pode significar a sentença de morte para aquele centro de excelência científica. Embora o Ministério da Defesa não tenha se pronunciado oficialmente, o Centro de Comunicação da Marinha informou, no último dia 7, que a Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) do Ministério do Planejamento aprovou a proposta de um empréstimo de 882,4 milhões de euros do ABN-Amro Bank para a construção do primeiro submarino, a ser contratada à empresa alemã ThyssenKrupp. O total da operação – o restante seria coberto pela União – é de 1,1 bilhão de euros (cerca de R$ 2,8 bilhões).

A decisão de fechar o Centro Experimental de Aramar foi expressa meses atrás, mais precisamente em fevereiro, numa reunião realizada na Casa Civil da Presidência da República, com a presença de representantes das três Forças Armadas e do Ministério da Defesa. Nesse evento, o chefe do Estado-Maior da Marinha, almirante-de-esquadra Euclides Duncan Janot de Matos, fez uma exposição na qual argumentou que a Armada, entre outras providências para se reequipar, deveria desistir do projeto do submarino nuclear (SNA) por causa da dificuldade de obtenção de novos recursos. O comando da Marinha alega que o projeto do SNA já gastou US$ 1,5 bilhão desde 1979.

O curioso nessa história é que a Marinha está seguindo um rumo oposto ao adotado pela Força Aérea Brasileira (FAB) durante o processo de licitação para a compra de 12 novos caças supersônicos para substituir os velhos Mirage III baseados em Anápolis (GO). No chamado projeto F/X, a FAB exigiu dos concorrentes a transferência de tecnologia para a indústria nacional. O projeto F/X acabou provisoriamente engavetado, mas estabeleceu um padrão de comportamento que se esperava incorporado pelo Ministério da Defesa. É bom lembrar que a transferência de tecnologia dos AMX italianos já tinha possibilitado à Embraer dar o salto de qualidade que a fez ingressar na era dos jatos, tornando-se uma empresa de aviação de renome internacional.

“A concepção estratégica de países que têm orçamentos de Defesa limitados, como o Brasil, é a de possuir meios capazes, não de derrotar o inimigo, mas de dissuadir agressões. Por isso, o valor estratégico do SNA para o País é inquestionável, em face da extensa costa brasileira”, disse há tempos o comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Roberto Guimarães Carvalho. Já os setores que defendem o fim do projeto do SNA seguem outro raciocínio estratégico, mas alegam que a força necessitaria de recursos financeiros continuados para concluir esse projeto. A construção de outros quatro submarinos convencionais, além de custar mais de um bilhão de euros aos cofres públicos, não acrescenta praticamente nenhum conhecimento tecnológico adicional. Acabar com Aramar é jogar pela janela o esforço de cientistas brasileiros que conseguiram dominar o ciclo de enriquecimento de urânio e desenvolver o protótipo de reator nuclear para o SNA.

Compra de novos submarinos convencionais ameaça
acabar com o projeto nuclear da Marinha

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