Quando assumiu nos EUA o comando dos estúdios Disney, uma das maiores máquinas de produzir lucros no setor cinematográfico, o empresário Bob Iger não houve animação nem fantasia em seus pronunciamentos. Foi seco: “Terei de quebrar vidraças.” Agora, menos de um ano depois, só se vêem estilhaços em Hollywood com a parceria que ele firmou com Steve Jobs, o todo-poderoso da Apple, gigante da informática que fatura alto com o iPod – o equipamento que toca músicas e exibe vídeos baixados da internet. Pelo acordo, a Disney passou a oferecer 75 filmes no iTunes, a loja virtual da Apple que vende canções e vídeos para o iPod. Foi um sucesso: a loja vendeu virtualmente US$ 1 milhão somente nos primeiros sete dias.

Se a Apple é uma das gigantes, o que não falta é gente grande nesse segmento – e também atrás de lucros. Assim, a Time Warner, Warner Bros., Sony Pictures, Viacom e Miramax acabam de anunciar que vão entrar nesse jogo até o final de 2006. Há pouco tempo, um pequeno grupo de empresários ditava as regras do entretenimento a partir de seus escritórios em Los Angeles e eram eles que decidiam como filmes e programas de televisão teriam de ser criados, quando e onde seriam distribuídos. A transmissão de vídeos pela internet de alta velocidade (via cabo, telefone, satélite ou sem fio) tirou dessa turma boa parte de seu poder. Hoje, muitos internautas baixam produções inteiras da rede em poucos minutos sem pagar um centavo, uma prática que encolhe anualmente os ganhos dos estúdios em cerca de US$ 5,5 bilhões. O que a Disney e a Apple fizeram, então, foi minimizar a pirataria criando uma espécie de Hollywood virtual: ou seja, liberam, elas mesmas, os seus filmes na internet.

Boa parte dessas mudanças está ocorrendo graças à tecnologia peer-to-peer (ponto a ponto) que permite baixar filmes em minutos com a qualidade de imagem e áudio de um DVD. De olho nesse mercado, a Apple aumentou a capacidade de armazenamento do iPod para 80 gigabytes, o suficiente para armazenar na memória 100 filmes de duas horas de duração. O interesse nesse novo mercado também está fazendo as empresas de internet se reestruturarem. Recentemente, o Google comprou um dos escritórios da Metro Golden Mayer e o Yahoo! contratou um antigo executivo da emissora ABC que deverá criar programas de tevê para a internet. Diretores e atores também estão entrando nesse ramo. Premiado com um Oscar, Morgan Freeman se aliou à americana Intel para fundar a ClickStar, empresa que vai distribuir filmes pela internet simultaneamente ao lançamento nos cinemas. “Queremos fazer com que seja mais fácil comprar um filme do que pirateá-lo”, diz o ator. Steven Sorderbergh (diretor de Traffic) inovou ao rodar seu novo filme Bubble com câmeras de vídeo de alta definição, tecnologia que permite lançá-lo ao mesmo tempo no cinema, em DVD e na internet. E os internautas poderão baixá-lo em minutos pagando o equivalente a uma entrada de cinema.