A ciência está descobrindo um mundo que desafia todas as regras da existência – e não se trata de nenhuma galáxia perdida a anos-luz de distância. Este mundo surpreendente é aqui mesmo na Terra, bem debaixo de nossos pés. É nele que inesperadas criaturas vivem em locais onde não existe oxigênio, não existe luz e, mais inesperado ainda, nem sequer existe água. Batizadas de extremófilos (porque gostam de lugares extremos), elas habitam lagos de soda cáustica e de ácido sulfúrico, rochas de granito e basalto, crateras de vulcões, blocos de gelo e outros locais onde qualquer mortal não teria a mínima chance de sobrevivência. Os cientistas acreditam há séculos e séculos que água, luz e oxigênio são fundamentais para o desenvolvimento da vida. Esses micróbios estão provando o contrário. Mais ainda: estão se revelando para a própria ciência, a cada pesquisa, muito mais úteis do que se imaginava.

Bactérias e fungos encontrados recentemente em um lago ácido na cidade americana de Butte estão produzindo substâncias que ajudam no tratamento de diversas doenças. Pesquisadores da Universidade de Montana, nos EUA, comprovaram que um tipo de fungo do grupo dos Pithomyces libera um composto capaz de bloquear dores de cabeça crônicas. E o Fungi penicillium bloqueia o crescimento das células do câncer de pulmão e do câncer de ovário. Agora, os cientistas estão induzindo em laboratório esses seres a sintetizar certas substâncias a partir de seu processo alimentar. Os resultados são promissores. Um laboratório dos EUA conseguiu que bactérias que se alimentam de combustíveis fósseis quebrassem as moléculas de petróleo. Qual a importância disso, do ponto de vista prático? É a seguinte: contando com o trabalho dessa “bicharada”, será possível reduzir o impacto ambiental sobre nós em casos de acidentes em refinarias ou navios petroleiros em alto-mar. Para tanto, bastaria espalhar uma comunidade dessas espécies na área do vazamento. Os estudiosos continuam monitorando os hábitos de vida desse time de bactérias e já há quem defenda a tese de que elas têm papel decisivo na formação de jazidas de petróleo e de gás natural no subsolo.

Em seu habitat, muitas dessas criaturas costumam se alimentar de gases como o metano ou de outros elementos químicos como o ferro, o enxofre e o manganês. Depois de “digeridas”, essas substâncias são devolvidas ao ambiente e servem de alimento para seres mais complexos como os protozoários – é assim que eles sobrevivem em um território tão agressivo. Os micróbios Methanopyrus kandleri habitam o interior de vulcões submarinos em temperaturas superiores a 350 graus Celsius e a Sulfolobus acidocaldarius se desenvolve em formações de enxofre com temperaturas superiores a 85 graus Celsius. Existem exemplares que atestam até mesmo a evolução das espécies. É o caso de uma colônia de bactérias encontrada em uma mina de ouro na África do Sul, a 3,5 quilômetros de profundidade e em um local onde a pressão é esmagadora. A análise do material genético desses micróbios encontrados pelo geólogo Tullius Onstot, da Universidade Princeton, em Nova Jersey, revelou que eles se separaram do restante dos seres vivos há cerca de dois bilhões de anos, vivendo desde então nas profundezas do planeta. E é dessa profundeza que começam a vir os sinais de vida que muitas vezes procuramos em outro “quintal” – no quintal cósmico fora da Terra.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias