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TENSÃO INTERNA
Faltam água, energia e até frutas e legumes

Famoso por promover encrencas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, conseguiu se superar. Com o país em uma crise de  abastecimento sem precedentes, ele aprofundou ainda mais a tensão na semana passada, levando milhares de manifestantes às ruas. Eram, na maioria, estudantes. Parte deles protestava contra a suspensão de seis emissoras de tevê a cabo independentes que haviam deixado de transmitir em rede um discurso de Chávez. A outra parte se alinhava com o líder bolivariano, defendendo a ideia de que, pelas mais recentes determinações governamentais, as emissoras eram obrigadas a abrir espaço para os discursos do presidente. E eles não são poucos. Só em 2009, Chávez discursou 141 vezes em rede nacional. Durante as manifestações, dois estudantes morreram – um era contra Chávez, outro a favor. Ao mesmo tempo, três desfalques no primeiro escalão do governo revelaram que a divisão da sociedade venezuelana chegou ao próprio chavismo. Entre os que pediram demissão na semana passada, “por motivos pessoais”, estava o vice- presidente, que na Venezuela é nomeado pelo chefe de Estado. 

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Ele era ainda o ministro da Defesa. Chávezreagiu rápido, indicando um general para a pasta da Defesa e o atual ministro da Agricultura para vice, mas não parece preocupado em reconciliar o país. “Se querem me derrubar, se dizem que eu estou acabado, eu os desafio, convoquem um referendo revogatório”, disse em programa de uma tevê estatal. O teste das urnas, porém, já está marcado. Será em setembro, quando ocorrem as eleições para o Congresso Nacional, que hoje tem maioria governista. “Chávez está vivendo o pior momento de seu governo”, afirma o cientista político Aldo Fornazieri, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. “Quando ele perdeu o plebiscito, não havia tanta tensão interna nem crise de abastecimento”, completa, referindo-se à tentativa de reforma constitucionalem 2007. De lá para cá, a Venezuela de Chávez entrou em processo de desmanche. Atualmente, há racionamento de água e de energia. No país acostumado a importar 70% dos produtos que consome, faltam até frutas e legumes. Supermercados acabam de ser estatizados e a moeda passou a ter dois câmbios – um para gêneros de primeira necessidade. Como se não bastasse, em vez de tentar pôr ordem na casa, Chávez aguça a crise, avançando contra meios de comunicação.