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DESISTÊNCIA
Candidatura ao governo de São Paulo está praticamente descartada pelo deputado

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A música de Geraldo Vandré que se tornou hino da esquerda brasileira nos anos 70 diz que quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Pré-candidato à Presidência da República pelo PSB, o ex-ministro Ciro Gomes tem interpretado o famoso verso ao pé da letra, mas à sua maneira. Convencido de que tem a prerrogativa de fazer a hora de sua candidatura, exige que os aliados esperem a decisão acontecer. E assim vai levando à exasperação o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que torcem para que ele tome uma decisão o quanto antes, de preferência optando por abandonar a a corrida presidencial. Temem que a presença de Ciro impeça o crescimento da ministra Dilma Rousseff e que, a exemplo da eleição recente no Chile, um cenário com dois nomes da base aliada possa jogar água no moinho da  oposição. O exministro, porém, é de opinião diferente e seu partido também. “Entendemos que é melhor ter duas candidaturas no primeiro turno. Essa é a melhor tática. A soma das intenções de voto de Dilma e Ciro é extremamente favorável”, afirma o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Ao receber o presidente Lula no Recife, na quarta-feira 27, o governador indicou que, apesar das pressões do PT, a estratégia do PSB, por enquanto, não será alterada. “A decisão cabe ao PSB e temos até o final de março para conversar a respeito com o presidente Lula. Tudo tem sua hora e não chegou a hora de mudar a tática que adotamos”, disse Campos, pouco antes do encontro oficial. “Hoje não vamos decidir nada”, concluiu. Bem sintonizado com a direção do PSB, Ciro Gomes, que chegou a Fortaleza na noite da segunda-feira 25 após férias na Europa, explicou a amigos que só anunciará seu destino eleitoral no início de março, num encontro que foi pré-agendado com o presidente Lula durante uma audiência realizada em setembro. “Nosso prazo é março”, confirma Eduardo Campos.

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“Entendemos que a melhor tática é ter duas candidaturas da situação no primeiro turno”
Eduardo Campos, governador de Pernambuco

Acredita-se, em Fortaleza, que, mesmo que mantenha a candidatura ao Palácio do Planalto, Ciro continuará a ser tratado como aliado pelo PT. E, na campanha, deverá sair em defesa das realizações de Lula, centrando fogo no nome apontado pela oposição. Está praticamente descartada a hipótese de Ciro Gomes sair candidato ao  governo de São Paulo, como desejava o presidente Lula, a contragosto das lideranças petistas do Estado. O ex-ministro chegou a mudar o domicílio eleitoral para São Paulo, mas ficou por aí. E a própria mudança de domicílio teve origem na preocupação do PSB com uma possível impugnação da candidatura à Presidência da República, pelo fato de Ciro ser irmão do governador do Ceará. Ciro assimilou rapidamente o entendimento de dirigentes do PT paulista de que a candidatura de um político de outro Estado seria uma aventura. Com seus assessores, Ciro comentou que faz política no Ceará há 30 anos e não teria nenhum sentido concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. A desistência de Ciro abre espaço para o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o neossocialista Paulo Skaf, que se filiou no final do ano passado ao PSB e já lançou seu nome como pré-candidato ao governo de São Paulo. Ao voltar da Europa, o ex-ministro afirmou que refletiu sobre a candidatura ao Planalto e “está muito animado com a campanha”. Na terça-feira 2, ele voltará a Brasília. Mas vai perder tempo quem cobrar de Ciro uma decisão. Por maior que seja a aflição do PT, a resposta definitiva só virá em março. Até lá ele manterá o papel de candidato indeciso.