Não há templo budista em Sydney. Para estudar os sutras (escrituras sagradas) ou praticar o zazen (meditação), é preciso freqüentar um pequeno centro mantido por leigos na cidade. Ou se virar em casa, como faz a brasileira Cristina Rocha, 43 anos. Antropóloga, ela descobriu o budismo em Kyoto, no Japão, onde morou em 1992. Simpatizante do zen ? uma das muitas escolas budistas espalhadas pelo mundo ?, Cristina decidiu pesquisar a história do movimento no País para escrever sua tese de doutorado. Seu trabalho mostra que a religião passou por adaptações para se adequar aos costumes brasileiros. O resultado está no livro Zen in Brazil: the quest for cosmopolitan modernity (Zen no Brasil: a busca pela modernidade cosmopolita), recém-lançado na Austrália, onde vive desde 1999. O primeiro desafio para entender a expansão do zen no Brasil é compreender o sincretismo religioso. Embora estudem os sutras e pratiquem o zazen, poucos brasileiros se declaram budistas quando sondados pelo Censo, o que explica o baixo número de adeptos apontado pelo IBGE (apenas 0,15% da população). ?Diante do recenseador, o brasileiro indica a Igreja na qual foi batizado, e não aquela com a qual mais se identifica. O batismo é tão importante para os brasileiros que os monges tiveram de introduzir esse tipo de ritual no País, embora ele não exista no Japão?, conta. Apesar do baixo número de adeptos declarados, os templos brasileiros recebem cada vez mais gente desde a década de 90. Contribui para esse crescimento a onda conhecida como Tibetan chic, deflagrada por filmes como O pequeno Buda e Sete anos no Tibet, que arregimentou astros de Hollywood e do Brasil para a fé do Oriente. A capa do livro de Cristina Rocha, por exemplo, reproduz uma ISTOÉ de 2001 ilustrada com uma foto de Cláudia Raia. A pesquisadora decidiu estampar essa imagem para demonstrar a força da religião no País. ?Identificado como religião da paz, o budismo se dissemina no Brasil mais como filosofia do que como religião, o que favorece o sincretismo?, explica Cristina. ?Uma vez, apareceu na tevê uma vidente que se dizia budista e, no ar, instruiu um cantor a cremar o encosto da ex-namorada. Budista não fala de encosto em nenhum lugar do mundo?, diverte-se. No máximo, acende um incenso para purificar o ambiente.


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