INTIMIDADE Paulo Coelho abriu sua casa em Tarbes e seus diários escritos ao longo de 40 anos

ERIC BIELLEPaulo Coelho é o escritor brasileiro mais conhecido no mundo, com o espantoso número de cerca de 100 milhões de livros vendidos. Ele é também o autor vivo mais traduzido no planeta e, graças a essa popularidade, já foi agraciado com a Legião de Honra do governo francês, uma das mais notáveis condecorações internacionais. Mas falar da glória de Paulo Coelho não tem lá muita novidade. O que pouca gente sabe é que o romancista carioca de 60 anos, autor de 20 best sellers, já se encontrou com o demônio, induziu (sem sucesso) uma namorada ao suicídio, teve relações homossexuais para confirmar se era gay e fazia sexo diante de uma anciã surdamuda. Tudo isso está dito, sem meias palavras, na biografia O mago (editora Planeta, 632 págs., R$ 59,90), o livro mais aguardado de 2008 e que chega às livrarias de todo o Brasil neste sábado 31, com uma inimaginável tiragem de 100 mil exemplares – em setembro, será lançado em outros 21 países. Escrito por Fernando Morais, um dos maiores craques em biografias (autor de Olga e Chatô – o rei do Brasil), o livro levou quatro anos para ficar pronto e é resultado de pesquisas e entrevistas com mais de uma centena de pessoas – sem falar das três semanas de conversas diárias que Morais teve com Paulo Coelho na sua casa em Tarbes, ao sul da França. Com lançamento previsto inicialmente para meados do ano passado, a obra sai com um ano de atraso porque Morais acabou tendo acesso ao testamento de Paulo Coelho e ficou sabendo da existência de um baú com objetos, recortes e diários de seu biografado cobrindo mais de 40 anos de sua vida. Ganhou então o direito de enveredar pelas lembranças secretas do mago, um acervo de 170 cadernos repletos de anotações e um punhado de fitas cassete com confissões que digitalizadas renderam 94 CDs. “Fiz a evisceração do cadáver, uma autópsia completa”, diz Morais. “Pelo menos 80% do que eu conto no livro é inédito.”

Sexo diante da surda-muda e a experiência gay
Ainda garoto, Paulo Coelho não via problemas em se masturbar. Como foi um adolescente sem grandes atrativos físicos, tinha dificuldades em arranjar namoradas. Com o tempo, descobriu os poderes da lábia e da sedução e se tornou um dom-juan. A sexualidade para ele não tinha limites: na juventude chegou a fazer sexo com uma garota diante de sua tia-avó surda-muda e senil. Também freqüentava prostíbulos e pagava uma velha francesa de 70 anos apenas para vê-la se masturbando. Inspirado em uma frase do filósofo e economista Karl Marx (“a prática é determinante”), aos 19 anos quis saber se tinha alguma tendência homossexual: foi a um bar freqüentado por garotos de programa e ofereceu dinheiro a um deles para fazer sexo. O rapaz não quis. Não satisfeito, Paulo Coelho, aos 20 anos, foi para a cama duas vezes com colegas do curso de teatro. Começou e terminou aí a sua experiência gay.

A falsa assinatura do pai
A Casa de Saúde Dr. Eiras, em Botafogo, era um local familiar para Paulo Coelho. Ele foi internado nesse hospital três vezes – fugiu duas. À primeira vista, o então adolescente não tinha nada de loucura, a não ser o gosto de quebrar tudo à sua volta quando se sentia deprimido e falsificar a assinatura do pai numa carta de apresentação a um emprego. Os médicos, no entanto, o diagnosticaram como “esquizóide” e ele foi submetido a tratamento com eletrochoques. Com o tempo, Paulo Coelho passou a procurar o psiquiatra que o tratara, o dr. Benjamim Gaspar Gomes, toda vez que sentia vontade de se suicidar. Mais tarde foi informado de que sofre da patologia denominada “síndrome de Estocolmo” – tendência a se apaixonar e desenvolver dependência pelo algoz. A última internação foi aos 19 anos.

Casamento aberto e fidelidade
O escritor teve muitas paixões na fase adulta: a socialite Vera Richter, a militante Adalgisa de Magalhães, a atriz Maria do Rosário Nascimento e Silva, a jornalista Cecília MacDowell e a artista plástica Christina Oiticica, com quem é casado desde 1980. Em Londres, Cecília experimentou com ele sexo grupal: ela concordou em dividir o leito com a japonesa Keiko, mas levou para a casa o produtor musical Peninha. Separou-se do marido porque havia cansado de suas “extravagâncias sexuais”, como, por exemplo, propor a ela que fossem buscar alguns “caras” na Cinelândia para apimentar a relação. Antes de conhecer Christina, Paulo Coelho disse que havia se cansado das mulheres- vampiros, que sugavam a energia de que precisava para escrever livros, seu grande sonho de garoto.

Drogas e primeira manifestação divina
Como todo hippie, Paulo Coelho se interessou na juventude pelas drogas. Começou pela maconha e logo passou para o haxixe (o livro traz um longo relato de uma experiência com o alucinógeno) e o LSD. Quando estava com Vera, viajou à Bolívia e passou cinco dias sob o efeito de mescal, alucinógeno destilado de um cactus. Decidiu parar com a cocaína em 1974, ao chegar a um hotel, em Nova York, e ver o amigo e parceiro musical Raul Seixas estatelado no sofá sob o efeito dessa substância. Ele diz que abandonou a maconha depois que passou pela sua primeira epifania (manifestação divina) em 1982 ao visitar o campo de concentração de Dachau, na Alemanha.

O bruxo e o anel de serpente
Filiado a uma entidade esotérica, aos 27 anos Paulo Coelho invocou o demônio e diz ter recebido a sua visita. Afirma que sentiu um cheiro sufocante de cadáveres, ouviu barulhos ensurdecedores e não conseguiu ficar em pé. Pouco tempo depois, foi seqüestrado pelo DOI-Codi (órgão repressivo da ditadura militar), sob a acusação de ser subversivo. Decidiu então nunca mais lidar com a chamada magia negra. Após a já citada epifania em Dachau, quando diz que recebera a visitação de uma luz em forma humana, Paulo Coelho conta que foi procurado por um mago chamado J em um hotel na Holanda. J se tornou, então, o grande bruxo de sua vida e eles marcaram um encontro em Estocolmo. Lá, teria conhecido uma mulher que lhe colocou um anel de serpente no dedo médio de sua mão esquerda. Ele nunca mais o tirou.

ARQUIVO PESSOAL

PAZ Com Christina, a mulher atual

DUAS DÉCADAS DE ALQUIMIA
O alquimista é o mais importante fenômeno literário do século XX e também a obra que projetou mundialmente o escritor Paulo Coelho. O livro vendeu 41 milhões de exemplares, foi traduzido para 67 idiomas, editado em 150 países e recebeu elogios de personalidades como o ex-presidente americano Bill Clinton e a cantora Madonna. Na comemoração dos 20 anos de seu lançamento, a Espanha batizará uma rua de Santiago de Compostela com o nome do escritor.

1987 – O diário de um mago conta a experiência de Coelho ao trilhar o místico Caminho de Santiago. Vendeu 30 milhões de exemplares.
1988 – O alquimista narra a vida de um pastor. Vai ser adaptado para o cinema.
1990 – Brida revela histórias de feitiçaria e vendeu dois milhões de exemplares.
2003 – Onze minutos aborda o dia-a-dia de uma prostituta na Suíça. Vendeu três milhões de exemplares.