No foco das eleições, um aspecto vital está sendo deixado de lado – ou, posto de outra forma, pouco considerado como fator decisivo na votação: que Brasil estamos construindo e qual Brasil vamos encontrar lá na frente? Desde o início da temporada de crises, que começou lá atrás com o mensalão, muito foi falado sobre a queda de padrão ético do País. O desafio que se impõe: evitar que esse retrocesso moral se cristalize, seja consagrado como modelo. Vários analistas estão seriamente preocupados com a governabilidade pós-crise e eleição. Como um Congresso que foi sacudido sistematicamente por tramóias de vários parlamentares – da quase maioria – resgata seu papel no contexto das forças governamentais? Os políticos, daqui para a frente, vão votar partidariamente ou continuar na base do “eu sozinho”, evitando qualquer chance de aprovação majoritária de projetos? Tamanhas foram as desavenças, ataques e contra-ataques que é difícil imaginar um ambiente político civilizado onde eventuais adversários de campanha possam compor na direção de escolhas adequadas para o desenvolvimento brasileiro. As pontes necessárias à governabilidade, à volta do entendimento numa espécie de grande pacto para recolocar o País no trilho, precisam estar na essência das intenções. Seja dos vencedores ou dos vencidos que saem das urnas. Não é mais possível o adiamento das chamadas reformas vitais – na conta, a previdenciária, a política e a trabalhista. E essas mudanças passam pelo diálogo. O atual cenário de possibilidades varia de um extremo ao outro: da eventual crise institucional à consolidação da democracia. O risco maior no processo é o de paralisia geral. Mas, como já disse Adhemar de Barros, não há abismos do tamanho do Brasil. Assim sendo, o País precisa, mais do que nunca, encontrar um bom futuro. E ele pode ter como ponto de partida as eleições presentes.