Um anúncio inusitado mexeu com a comunidade científica, em especial a dos urologistas. Médicos chineses anunciaram a realização
do primeiro transplante de pênis relatado em uma revista científica, fato que, a princípio, aumenta a respeitabilidade do procedimento. A cirurgia será divulgada na edição de outubro do European Urology, o jornal da Associação Européia de Urologia.

A intervenção foi feita no Guangzhou General Hospital, na China. O paciente é um homem casado, 44 anos, que praticamente perdeu o órgão em um acidente ocorrido há um ano. Seu pênis ficou reduzido a apenas um centímetro. Essa condição não permitia que ele urinasse direito e tampouco mantivesse relações sexuais. O pênis implantado foi retirado de um jovem de 22 anos diagnosticado com morte cerebral e cuja família autorizou a doação.

Segundo o relato da equipe médica, a operação durou 15 horas. Uma das maiores dificuldades foi fazer a ligação dos nervos e das microveias e artérias presentes na região. Os especialistas chineses, no entanto, garantem que a cirurgia foi um grande êxito. De fato, de acordo com os profissionais, dez dias depois o homem urinava normalmente e não havia sinais de rejeição.

O grande problema foi de ordem psicológica. Nem o paciente nem sua esposa se adaptaram emocionalmente à nova situação. Por isso, 15 dias após o procedimento, eles pediram aos médicos para retirar o novo pênis. A decisão do casal abriu uma grande discussão a respeito desse tipo de transplante. Há cinco anos, por exemplo, médicos foram obrigados a amputar o que havia sido a primeira mão implantada no mundo. O receptor também não havia se sentido bem com a situação. Esses sentimentos de rejeição pelos órgãos praticamente não existem em transplantes convencionais como os de coração e rim. “Por isso, é preciso dar mais atenção psicológica aos candidatos”, afirma o urologista Yoram Vardi, do Centro Médico Rambam, em Haifa, Israel.

Também há outro aspecto a ser considerado. Como em qualquer transplante, o paciente precisa tomar altas doses de medicamentos que impedem a rejeição do órgão. Muitas vezes, porém, esses remédios podem gerar danos ao rim e outros problemas. Desse modo, há quem questione se vale a pena correr esses riscos para substituir órgãos não vitais, enquanto outra parte da medicina prefere ainda pensar melhor sobre a questão. “Transplantes como esse e o que foi feito na França, de face, fazem pensar que os limites nessa área ainda estão sendo buscados. São operações feitas por questões psicológicas e isso exigirá muita reflexão”, analisa o urologista brasileiro Erick Wroclawsky, presidente da Confederação Americana de Urologia. É verdade. Até porque ninguém sabe se, realizado um novo transplante do gênero, ele será de fato totalmente eficaz. No trabalho chinês não houve tempo para verificar se o pênis transplantado propiciaria relações sexuais satisfatórias para o homem e a mulher.