Foi-se o tempo em que centenas de homens engravatados esgoelavam-se diariamente no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo. Sepultado pelas negociações eletrônicas, o pregão viva-voz foi morrendo aos poucos até ser enterrado, em setembro do ano passado. Na quarta-feira 27, o antigo território dos operadores foi reinaugurado. Agora, o enorme saguão da Bovespa ressurge como uma escola high tech de investidores, painéis eletrônicos de última geração, filme em três dimensões, palestras sobre o mercado de capitais, mesas para simulação de operações, museu e, claro, um charmoso café. Assim como em Nova York, o templo do capitalismo brasileiro abre as portas ao público para atrair mais fiéis, sejam eles turistas, estudantes ou outros acionistas em potencial. “Quem sabe no futuro a gente coloque também uma lojinha, com produtos da marca Bovespa”, diz Raymundo Magliano Filho, presidente da Bolsa.

Tudo indica que o Espaço Bovespa entrará para o circuito cultural de São Paulo. Com 116 anos de existência, a Bolsa está encravada no centro histórico, próxima a ícones como o Pátio do Colégio, o Mosteiro de São Bento, a Praça da Sé e o Teatro Municipal. Antes de fechar para reforma, o antigo pregão foi aberto à visitação durante os fins de semana. Entre agosto de 2004 e setembro de 2005, recebeu cerca de 33 mil pessoas. Agora, a Bovespa receberá visitantes sete dias por semana. Além de aprender sobre o funcionamento da Bolsa com ex-operadores, as pessoas conhecerão a história do mercado de capitais no Brasil e verão objetos que viraram peça de museu, como uma ação do século XIX, impressa em papel-moeda, e um telefone sem fio da década de 1980.

Mais do que um simples espaço turístico, o Espaço Bovespa é uma arma estratégica importante no projeto de popularização do mercado de ações. Se não existe capitalismo sem risco, não há Bolsa sem investidores. Os corretores perceberam isso e tentam recuperar o tempo perdido. No Brasil, a onda das privatizações na década de 1990 passou longe das pessoas físicas, ao contrário do que ocorreu na Inglaterra e na Espanha, onde milhões de habitantes foram estimulados a investir em ações. A solução para criar demanda foi melhorar a qualidade dos papéis, com o lançamento do Novo Mercado – com regras mais rígidas de transparência e gestão para as empresas –, e fazer corpo a corpo com os trabalhadores e a classe média.

Com o programa “A Bolsa Vai Até Você”, as equipes da Bovespa fizeram marketing em praias, fábricas, teatros, clubes, metrôs e outros lugares movimentados em todo o Brasil nos últimos cinco anos. O próprio presidente acordou de madrugada para falar aos metalúrgicos em portas de fábrica e foi de bermudas ao litoral conversar com os banhistas. “A educação financeira é fundamental em nosso projeto de uma Bolsa democrática e transparente”, diz Magliano. Hoje, as pessoas físicas são responsáveis por 25% da movimentação diária da Bolsa, de R$ 2,2 bilhões. E todos os lançamentos iniciais de ações são feitos no Novo Mercado.