O sinal amarelo acendeu na terça-feira 26. O Brasil despencou nove posições no ranking mundial de competitividade, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial. O País agora ocupa o 66º lugar entre as nações mais atrativas para investimentos. Um vexame. Está atrás de concorrentes importantes, como Rússia, China e Índia, que estão longe de ser paraísos capitalistas e têm um histórico de problemas políticos e econômicos ainda mais graves que os nossos. Que o pequeno Chile tenha ficado à frente do Brasil, vá lá. Mas perder para o México, um país estagnado, e a Colômbia? É triste, mas não é difícil de entender os motivos.

A falta de um crescimento robusto foi um dos fatores que influenciaram a redução da competitividade brasileira. Este ano, o Produto Interno Bruto não deve crescer mais do que 3,5%, na melhor das hipóteses. É pouco. Muito pouco. Na década de 1970, quando o Brasil era considerado o país do futuro, o PIB chegou a aumentar 14%. “Um país como o Brasil deveria crescer 6% ou 7% ao ano”, vaticina Kenneth Rogoff, professor da Universidade de Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional. O problema é que o Brasil atravessou quatro anos de relativa calmaria na economia global e não conseguiu retomar seu lugar de destaque no cenário internacional. Mas o cenário pode mudar – o céu não é de brigadeiro, principalmente nos Estados Unidos – e o próximo governo terá mais problemas ainda para tirar o País do marasmo econômico.

Ninguém prevê, num futuro próximo, nenhuma hecatombe nos mercados como as que abalaram o planeta no final dos anos 90, quando as economias do Sudeste Asiático, da Rússia e do próprio Brasil derreteram. O preço do petróleo está em queda, apesar das tensões entre o Ocidente e o Oriente Médio, e a Europa passara por um ligeiro aquecimento da economia. A China, um dos principais motores do crescimento mundial, continua se expandindo a taxas de 10% ao ano. A grande incógnita são os Estados Unidos, que geralmente provocam gripes em outros países, como o Brasil, logo após seu primeiro espirro. Teme-se o estouro da bolha imobiliária (tese favorita do economista Paul Krugman, um dos mais influentes nos Estados Unidos) e a elevação dos juros pelo banco central americano, seguida de uma forte recessão. Se vai acontecer o pior ou não, o fato é que o próximo presidente poderá ter mais pedras em seu caminho do que imagina atualmente.

O futuro ocupante do Palácio do Planalto chegará em janeiro de 2007 numa situação bem mais confortável que a encontrada por governantes anteriores para enfrentar eventuais choques vindos do Exterior. O dragão da inflação (alguém ainda se lembra desta expressão?) está adormecido. Este ano, os preços ao consumidor não devem crescer mais do que 3,4%, um resultado melhor até que o dos Estados Unidos. Do ponto de vista das contas públicas, o governo tem conseguido economizar mais do que o suficiente para pagar os juros da dívida pública de R$ 1 trilhão. Sobram dólares nos cofres do Tesouro para pagar a dívida externa e as exportações devem superar as importações em mais de US$ 35 bilhões até dezembro. Ou seja: não é por falta de dólares, nem de reais, que o Brasil vai responder com aumento da inflação ou da taxa de câmbio a um espirro dos Estados Unidos.

Remédios contra a turbulência

As recentes crises da Argentina e da Turquia tiveram efeitos menos nocivos do que antes e, em maio passado, a sombra das turbulências americanas não levou a
cotação do dólar a mais do que R$ 2,40 – antes da eleição de Lula, em 1993, a taxa passou de R$ 4. “A vulnerabilidade externa é muito menor hoje em dia”, afirma o economista Fábio Akira, do banco JP Morgan.

Para não entrar para a história como mais um governante medíocre, o próximo presidente precisará adotar medidas que aumentem o dinamismo da economia brasileira e a recoloquem na rota do crescimento sustentado. Sonhar com um ritmo chinês é utopia nessa altura do campeonato eleitoral. Mas não custa tentar e apostar em ações com alcance de longo prazo. É o que tem feito o governo, embora tardiamente. Nas últimas semanas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou medidas importantes para aumentar a oferta de crédito imobiliário, aumentar a concorrência entre os bancos e a oferta de empréstimos às pessoas e às empresas. A mais recente foi a redução expressiva da Taxa de Juros de Longo Prazo, a TJLP, que baliza os empréstimos do BNDES.

Na quarta-feira 27, a TJLP foi cortada de 7,5% para 6,85% ao ano. Para Mantega, essa queda é um passo importante para elevar a taxa de investimentos do País, dos atuais 20% para 25% do PIB, nos próximos anos. Sem investimentos, não há crescimento. A medida arrancou até um raro elogio do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. “Enfim, uma boa notícia para quem trabalha e produz, quem acredita no desenvolvimento do Brasil”, afirmou. De fato, é preciso comemorar esta e as próximas reduções. A decisão pode contribuir para atrair investimentos de R$ 75 bilhões, calcula a Associação Brasileira de Infra-Estrutura e da Indústria de Base (Abdib).

Na área de energia, o dinheiro será muito bem-vindo. Se não houver novos empreendimentos para a geração de energia elétrica e uma redução da dependência do gás boliviano, o Brasil poderá ter um novo apagão em 2010, nove anos depois da crise energética do governo FHC, prevê o especialista Adriano Pires, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo ele, o próximo presidente não vai conseguir um crescimento acima de 4% ao ano se não aumentar a oferta de energia. Será? O governo contesta essa tese, mas precisa fazer mais do que isso para garantir às indústrias e ao comércio a energia necessária para o desenvolvimento.

Os economistas sempre têm à mão as soluções para os problemas do Brasil. Difícil é implementá-las quando estão no governo. Dentre os problemas apontados pelo Fórum Econômico Mundial para a queda da competitividade no Brasil, estão conhecidos freios ao crescimento: déficit fiscal, endividamento público elevado, juros altos, carga tributária excessiva, deficiências na máquina administrativa e corrupção. Todas as maiores economias do mundo passaram – e ainda passam – por problemas semelhantes. O importante é perseverar e tomar as medidas necessárias.

A derrama não pode continuar

Um dos principais desafios do próximo governo será reanimar o empreendedorismo, melhorar o ambiente dos negócios e incentivar os empresários a fazer o que eles mais gostam: investir, conquistar mercados, crescer. Para isso, precisa reduzir a cobrança dos impostos. A derrama, que em tempos idos derrubava monarcas, saiu de 24% do PIB em 1987 para a casa de 38% em 2005. Isso revela uma brutal transferência de renda do setor privado para o setor público. Como o governo tem um déficit fiscal da ordem de 3,3% do PIB, que inclui o pagamento dos juros da dívida de R$ 1 trilhão, a mordida total supera 40% de tudo o que o País produz no ano todo. Em vez de virar investimento, esse dinheiro custeia gastos públicos, que crescem cada vez mais. Se continuar asfixiando a economia desta forma nos próximos quatro anos, o futuro presidente não terá o que comemorar em 2010.