À primeira vista, um final de tarde tipicamente nova-iorquino. Com direito a vento, ao estilo multirracial da loja Sephora, da boulangerie Au Bon Pain, do hotel Ramada-Inn, a churrasco grego, a hambúrguer e a hot-dog. Mas que ninguém se iluda. Tudo não passa de um cenário no qual são filmadas as cenas externas da série CSI: NY (Sony, canal a cabo, às quinta-feiras, 20h, em sua primeira temporada), o caçula da autodenominada “franchise nº 1 do mundo”, responsável também pelo pioneiro CSI: crime scene investigation (Sony, às quartas-feiras, 20h, em sua quinta temporada) e por CSI: Miami (Sony, às terças-feiras, 20h, atualmente na terceira temporada). A bem da verdade o set onde o lanche foi servido para as dezenas de jornalistas do mundo todo é mais utilizado pela sitcom Will & Grace, que, por sua vez, o herdou da ultranova-iorquina Seinfeld. E, para falar a verdade, aquilo não era Nova York, mas um dos inúmeros cenários de Radio City, complexo de estúdios que dá nome ao bairro de… Los Angeles! Sim, todas essas séries são filmadas em LA, incluindo CSI: Miami, em Manhattan Beach, e CSI, que se passa em Las Vegas, em Santa Clarita, outro bairro da cidade, que lembra muito o deserto onde repousa a verdadeira “cidade do pecado”.

CSI é um fenômeno global criado por Anthony Zuicker em 1999 e abençoado pelo fabricante de blockbusters Jerry Bruckheimer. Desde que “pegou”, aproximadamente um ano depois, não saiu mais do topo das listas de audiência, disputando o primeiro posto com American Idol, o freak-show de calouros. Para quem não conhece a série, ou melhor, a franchise, CSI focaliza uma equipe de policiais cientistas ou cientistas policiais especializados na “investigação da cena do crime”, de onde foi tirada a sigla. Sua principal atividade, porém, é a autópsia, em que seguem ao pé da letra a máxima que diz que quem melhor pode falar sobre um crime é a própria vítima. Mas é nos detalhes inusitados que ela “pega” o espectador. Como se não bastassem os hematomas, os cortes, os esmagamentos, as perfurações à bala, mostrados em minúcias, os episódios são recortados por delírios visuais inimagináveis. Por exemplo, quando alguém morre baleado, durante a autópsia a câmera assume o papel da
bala, perfurando a carne, quebrando ossos, atravessando órgãos, dilacerando tecidos. Um de seus trunfos é a trilha de abertura escolhida por Zuicker: só
músicas do The Who, sugeriu Who are you? (Vegas), Won’t get fooled again (Miami) e Baba O’Riley (NY).

Atualmente a grande comoção gira em torno da presença de Quentin Tarantino na direção do último episódio da atual temporada de CSI: Vegas. A comoção continua com a possibilidade de o ator William Petersen abandonar a série, fazendo com que seu personagem, o entomologista Gil – pronuncia-se “guil” – Grissom simplesmente morra. O boato é de que Tarantino foi contratado para “kill Gil” (matar Gil), em um trocadilho forçado em cima do último filme do diretor, Kill Bill. Zuicker disse que tudo não passaou de uma brincadeira. Mas o clima existe. Na véspera da tarde “nova-iorquina”, nas entrevistas reunindo os elencos de Las Vegas e Miami o que ficou claro é que as três séries são rivais, com os times sendo liderados por Petersen, o entomologista Grissom, em Las Vegas, David Caruso, o especialista em explosivos Horatio Caine, em Miami, e Gary Sinise, o detetive Mack Taylor, em Nova York.

Gary Dourdan, o negro de olhos verdes que vive o investigador Warrick Brown em Vegas, resume assim a situação: Zuicker e o elenco de CSI: Vegas eram um time. Tiveram a idéia da série e a venderam para a Disney, que cancelou a produção antes da primeira tomada. Depois de realizarem o piloto com dinheiro do próprio bolso, entrou em cena a Alliance Atlantis, uma empresa canadense que financiou os 23 episódios seguintes. Pouco a pouco a série foi se firmando e, quando se preparavam para a segunda temporada, coroados de sucesso, a CBS anunciou o primeiro spin-off (filhote). CSI: Miami. Os espectadores não perceberam, mas George Eads, que vive o texano Nick Stokes, e Jorja Fox, a investigadora de San Francisco Sara Sidle, chegaram a ser demitidos em meio a protestos por aumento de salário – sendo readmitidos após alguns dias e acordos.

Fórmula – Na prática, não se mexe em time que está ganhando, mas começou a ficar claro que o time em questão não são os elencos, mas a fórmula. Assim a situação é a seguinte: CSI: Vegas, é o original e mais forte, CSI: Miami, o mais dinâmico, e CSI: NY, ao qual Zuicker se dedica em tempo integral, o mais artístico. Que a fórmula funciona é patente. A escritora Patricia Cornwell, por exemplo, tornou-se best seller graças a Kay Scarpetta, uma CSI que inventou nos anos 1990. Zuicker diz que nunca ouviu falar nela. Imitações televisivas não param de surgir, como Crossing Jordan, Medical investigation, Law & order: special victims unit, NCIS. Fãs, alguns deles célebres, se estapeiam para fazer papel de morto em uma das autópsias da série.

A franchise CSI é um sucesso. Que o diga Gary Sinise. Contrabaixista da LT. Dan nas horas vagas, banda que se apresenta para as tropas americanas estacionadas no exterior, diz que seu “emprego”, para o qual assinou um contrato por seis anos, é uma garantia de não ter que escolher roteiros ou levantar financiamentos. Marg Helgenberger, que faz a ex-stripper Catherine Willows, diz que não se preocupa com sua imagem. Já fez papel de prostituta antes e alega que foi o diretor Steven Soderbergh quem se enganou ao escalá-la como mãe de família em Erin Brockovich – uma mulher de talento. Ao descobrir o repórter da ISTOÉ, Carmine Giovinazzo, que faz o detetive Danny Messer, gritou: “Brasil? Conheço bem. Espírito Santo e Paraty!” William Petersen não compareceu às entrevistas alegando o casamento da filha. Não se sabe se Quentin Tarantino teve algo a ver com isso.