Lolita (Marilou Berry) acumula gordura e problemas. Insegura como o pai, o glorioso escritor Étienne Cassard (Jean-Pierre Bacri), a garota se sente desprezada por aqueles que, na sua opinião, deveriam amá-la e explorada pelos mais insuspeitos, como a professora de canto Sylvia Millet (Agnès Joaui). Esse jeito autodepreciativo de Lolita dá o tom de Questão de imagem (Comme une image, França, Itália, 2004), em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo. Segundo filme de Agnès, que dividiu o roteiro premiado no Festival de Cannes com Bacri, seu ex-marido na vida real, a produção agrada por não descambar para o maniqueísmo simplista que a situação poderia sugerir. Tanto Lolita quando Sylvia agem de acordo com as circunstâncias, deixando para depois a soma dos prós e contras de suas ações, quando pesam. Todos são atraídos para o vórtex criado pelo narcisismo de Cassard, o Rei Sol. De Sebastién (Keine Bouhiza), que conhece Lolita por acaso, a Pierre (Laurent Grévill), marido de Sylvia, um escritor em ascensão, Karine (Virginie Desarnauts), a jovem madrasta de Lolita, é a que melhor personifica a mensagem de Agnès neste filme ambientado em luxuosos apartamentos e casas de campo, hábitat do mundo literário francês, tão desbocado, mal-humorado e machista quanto qualquer outro menos sofisticado. Ela não pensa, calcula e manipula. Age. Da mesma autora de O gosto dos outros, sensação do César de 2001, o Oscar francês.


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