O candidato do PSDB à Presidência da República chega à reta final da campanha desafiando os números. Apesar de as pesquisas de intenção de voto insistirem na vitória do presidente Lula no primeiro turno, Geraldo Alckmin estava confiante de que haveria uma segunda volta. Surgiria, então, um Alckmin renovado e empolgado pela surpresa contra um Lula atônito diante de um quadro que não mais previa. A decisão de Lula de não comparecer na quinta-feira 28 ao debate da Rede Globo foi imensamente comemorada por Alckmin. Para o analista Antônio Lavareda, que faz a leitura das pesquisas para o candidato, Lula poderia perder cerca de quatro pontos porcentuais com a ausência. Alckmin concentrou a última semana de campanha no Nordeste. As carreatas foram grandes, os comícios, cheios. “Pela primeira vez, eu vi as bases mobilizadas, alguns até entusiasmados”, relata o senador Heráclito Fortes (PFL-PI). Ele acredita que teria havido uma certa mudança no humor do eleitorado nordestino, graças à entrada mais forte dos caciques regionais na campanha e a um certo corpo mole do PMDB governista. Cada vez mais certo de que será o fiel da balança de tudo o que acontecer na política daqui para a frente, os governistas do PMDB teriam começado a preferir um segundo turno para aumentar o cacife dos seus apoios. Nos comícios e entrevistas, Alckmin começou a mudar de tom e a atacar Lula de forma mais direta, chamando-o de omisso em todos os casos de corrupção no governo. Foi com essas convicções que o candidato tucano respondeu a ISTOÉ:

ISTOÉ – Como o sr. planeja governar junto com o Congresso, diante do desgaste sofrido pelos parlamentares e da possibilidade de esse mesmo Congresso não atuar de forma majoritária na votação de pautas?
Geraldo Alckmin –
Não foram os parlamentares que se desgastaram. Quem se desgastou foram os aliados do governo, a base governista forjada na base de mensalões. No meu governo, a relação do Poder Executivo com o Congresso Nacional vai levar em consideração os interesses do País, e não os interesses de grupos, como acontece no governo do presidente Lula. O que vai garantir maioira será a qualidade das propostas que serão encaminhadas à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal.

ISTOÉ – O gargalo do crescimento já vem sendo apontado como o mais grave já enfrentado pelo País. Há pelo menos uma década o crescimento tem sido residual diante do resto do mundo. Qual o seu plano para mudar esse processo?
Alckmin –
Meu programa de governo é uma grande agenda para o desenvolvimento nacional. País forte é país que cresce. Para isso, é preciso criar um ambiente de estímulo aos investimentos e aos negócios, que geram empregos e melhor distribuem a renda. É isso o que vou fazer.Vou trabalhar duro para acabar com a ineficiência e a corrupção que se entranharam em todo o governo federal. Com essas pragas, o Estado gasta muito e gasta mal. Sem fazer investimentos em infra-estrutura, eleva a carga tributária, que já está em quase 40% do PIB, e obriga o Banco Central a praticar juros excessivamente altos, os mais elevados do mundo. Os juros altos, por sua vez, atraem dólares em excesso e estimulam uma valorização artificial do real. Isso prejudica a indústria, que passa a enfrentar dificuldades para exportar. Ou seja, está tudo errado. É preciso fazer o contrário: acabar com desperdícios, reduzir impostos e juros, fortalecer as agências reguladoras e respeitar contratos para atrair investimentos.

ISTOÉ – Com a cláusula de barreira, uma nova realidade política se estabelece no Brasil. Como o sr. projeta o processo democrático brasileiro a partir desse quadro?
Alckmin –
A cláusula de desempenho vai reduzir o número de partidos e facilitará a governabilidade. Os políticos sérios que hoje estão em partidos pequenos poderão se transferir para outras legendas. Além disso, logo no começo do governo, vou enviar ao Congresso um projeto instituindo a reforma política, com fidelidade partidária e voto distrital, para moralizar ainda mais a atividade política em nosso país.

ISTOÉ – O ex-governador Adhemar de Barros uma vez definiu que não existe abismo do tamanho do Brasil. Gostaríamos de saber do sr.: que Brasil estamos construindo e a que Brasil iremos chegar ao final do próximo mandato?
Alckmin –
O correto é dizer que não existe país com o potencial de crescimento do Brasil. Infelizmente, o governo atual nos condenou a quatro anos de paralisia. No final do meu governo, já teremos retomado a marcha para o desenvolvimento. Estaremos em plena construção do Brasil que os brasileiros sonham: um país desenvolvido, crescendo pelo menos na mesma velocidade dos nossos vizinhos, gerando empregos e garantindo oportunidades para todos. No final do meu governo, o Brasil estará liderando a corrida do desenvolvimento na América Latina.

ISTOÉ – Qual a sua opinião sobre o voto distrital, sobre o fim do mecanismo da reeleição e sobre o modelo de bipolaridade partidária, ou seja, de dois partidos, nos moldes do sistema americano?
Alckmin –
Sou favorável ao voto distrital e defendo que a reeleição seja mais
bem regulamentada para evitar os abusos que estão acontecendo neste ano.
Sem regras mais claras que evitem esses abusos, sou contra a reeleição. Sou contra a bipolaridade partidária. Nos Estados Unidos, embora a disputa seja polarizada em duas legendas, existem diversos partidos. No Brasil, já tivemos
uma experiência forçada de bipartidarismo – Arena e MDB – que não deu certo.
Acho saudável que o povo tenha mais de dois candidatos, mais de duas propostas para fazer a sua opção.

ISTOÉ – No que o seu governo pode ser melhor do que o do seu adversário?
Alckmin –
Em tudo. No meu governo não haverá corrupção e ineficiência, que
são resultados diretos da partidarização do Estado. Quanto mais panelinhas de companheiros, mais paquidérmico e ineficiente é o governo e mais ele pesa nas costas do contribuinte. Vamos desburocratizar e “despetizar” o governo. Vamos prestigiar as carreiras funcionais com acesso por concurso público. Com gente
séria e trabalhadeira em todos os escalões do governo, vamos dar um grande
salto de qualidade nos serviços públicos e isso vai dar um grande impulso
para o desenvolvimento.

ISTOÉ – A partir do programa assistencialista do Bolsa Família, qual o passo seguinte que se faz necessário para a efetiva inclusão social?
Alckmin –
O Bolsa Família é necessário, será mantido e aperfeiçoado. A efetiva inclusão social virá com o crescimento do País, com investimentos em infra-estrutura. Obras de saneamento, construção e recuperação de estradas vão gerar milhares de empregos. Eu vou executar um rigoroso controle dos gastos públicos que, ao lado da reforma tributária e da redução dos juros, vai fazer sobrar dinheiro para esses investimentos.

ISTOÉ – Com que quadro partidário o sr. imagina governar?
Alckmin –
Vou governar com integral respeito aos Poderes Legislativo e Judiciário.
A aliança, com a qual vou governar, será formada com base em um programa nacional de desenvolvimento.

ISTOÉ – No seu futuro Ministério, qual a proporção que o sr. imagina construir
de quadros técnicos e políticos nos principais cargos?
Alckmin –
Os integrantes do meu governo terão que reunir duas condições: competência e honestidade. O que vai definir se eles serão técnicos ou políticos
é a missão que cada um terá no governo.

ISTOÉ – O que deu certo e o que deu errado no governo que termina ao
final deste ano?
Alckmin –
Nada deu certo. Tudo deu errado. Hoje, sob o ponto de vista ético, o governo é um descalabro; sob o ponto de vista de gestão, um desastre. São 34 ministérios que não funcionam e ficam dando trombadas entre si e contra a
iniciativa privada. Sob o ponto de vista do crescimento econômico, um horror. Nesta semana, o Brasil caiu nove posições no Ranking da Competitividade Global, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial. Estava em 57º lugar e caiu para 67º.
Quer dizer, o Brasil passou do freio de mão para a marcha à ré e mostrou que o governo Lula não tem acelerador.