Aos 58 anos, Mireille Guiliano é a própria incorporação de uma taça de champanhe. A elegância desta empresária e escritora francesa se estende do físico, passando pelos trajes, até seu texto impecável. O champanhe, aliás, é parte de sua vida, já que ela é a presidente da Clicquot Inc., o clássico fabricante da bebida, nos EUA. O produto também está em sua dieta, o que demonstra apuro do paladar e bom senso. Armada destas qualidades, além de uma erudição obtida nas escolas que cursou na sua Paris ou na residência há 20 anos em Nova York, Mireille escreveu um livro de dieta. Entenda-se: não apenas um manual de perdas de peso, mas um tratado sobre joie de vivre. E nessa alegria de viver incluem-se receitas deliciosas e métodos para se manter a forma, à française. O resultado foi o best seller internacional As mulheres francesas não engordam – o segredo de comer por prazer. O livro chegou ao Brasil na semana passada, publicado pela Editora Campus/Elsevier. Um libelo ao bom senso e aos bons costumes, do qual Madame Guiliano fala na entrevista a seguir.

ISTOÉ – As francesas são mais esbeltas do que as americanas.
O motivo disso não seria genético?
Mireille Guiliano –
A razão é cultural. Eu, por exemplo, ganhei dez quilos depois que me estabeleci nos EUA. Se você come mais do que queima, engorda. A maioria dos americanos come 30% mais do que necessita.

ISTOÉ – Por que a sra. não recomenda a eliminação do consumo de
carboidratos ou gordura?
Mireille –
O segredo é o equilíbrio. Aqui muita gente não come pão, pois acha que engorda. Para os franceses isso é inconcebível. Pão é bom. É claro que não se deve comer um filão. Mas uma ou duas fatias é perfeitamente aceitável.

ISTOÉ – Qual é sua rotina em termos de alimentação?
Mireille –
Cozinho muito e a cada dia tenho um tipo diferente de café da
manhã. O que como de manhã depende muito do que comi na noite anterior.
Ontem, por exemplo, fui a um bom restaurante, tomei champanhe, vinho,
comi pão, pedi sobremesa. Então, hoje tomei iogurte e comi um kiwi. Está de acordo com o que meu organismo necessita. Iogurte, aliás, é muito bom. Na França, tomamos muito. Mas o natural. Numa visita a um supermercado daqui, vi, numa prateleira inteira, só dois naturais. Os componentes químicos fazem mal e engordam. Aqui nos EUA os alimentos são superadocicados. E, se você come algo adocicado, terá vontade de comer mais. Verifique o que compra. Se comprar alimentos frescos, pode comer de tudo e bem.

ISTOÉ – Qual a diferença entre a relação dos americanos e dos franceses
com a comida?
Mireille –
Os americanos vêem a comida com desconfiança. Saio com amigas americanas e elas dizem: “Ah! Não posso comer sobremesa.” E vão para
casa e comem um balde de sorvete. Os americanos têm a tendência de exagerar nas porções. Na França isso é raro. Comemos por prazer e cozinhamos também. Minhas amigas americanas não gostam de cozinhar. As francesas acreditam que cozinhar é uma forma de arte. E sentar e compartilhar a comida é um momento importante para nós.

ISTOÉ – Muitas americanas dizem que, para as mulheres, sair da cozinha teria sido importante para a afirmação do feminismo. A sra. não concorda?
Mireille –
As coisas vão além disso. Na França também experimentamos o feminismo, e, no entanto, cozinhamos. No caso americano, a cozinha apela para outro elemento cultural. A repulsa à comida é algo que remonta ao puritanismo. Os franceses têm um passado gastronômico que é fundamentalmente ligado a sua cultura. Temos desde Catarina de Medici, fiorentina que deu grande avanço à nossa culinária, até os grandes chefs atuais.

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ISTOÉ – Catarina de Medici, aliás, inventou o sorvete que agora engorda americanos.
Mireille –
Mas sorvete bom, sem conservantes. Feito de modo mais elaborado, é bom e pode ser tomado.

ISTOÉ – A sra. é presidente da Clicquot Inc nos EUA. Não pode ser contra o consumo de champanhe. Mas o álcool realmente combina com dieta?
Mireille –
E por que não? Um copo de vinho nas refeições é até recomendado por médicos. Uma taça de champanhe antes da refeição também faz bem. O importante é não abusar. Uma taça de champanhe antes e um copo de vinho tinto durante as refeições. Só.

ISTOÉ – Este parece ser o segredo de sua dieta: moderação. Além disso, o que a sra. acha que transformou o livro num sucesso?
Mireille –
Prego o bom senso e falo de assuntos culturais relacionados à alimentação que despertaram curiosidade. Dou receitas deliciosas. Quando preparadas com gêneros alimentícios próprios, não engordam.

ISTOÉ – Por que a sra. decidiu escrever o livro?
Mireille –
Minhas amigas reparavam como as francesas são esbeltas e me perguntavam o segredo. Elas insistiram para que eu colocasse tudo num livro. Eu não comentava com elas, pois sou uma pessoa discreta, mas eu também tive problemas de excesso de peso. Com bom senso e moderação, prestando atenção aos gêneros que compro no mercado e cozinhando com prazer, emagreci.


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