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Como se tivesse receio de estar assumindo diante das câmeras algo que poderia ressoar a sensacionalismo, o governador de São Paulo, José Serra, foi cauteloso depois de chegar o mais próximo possível dos escombros na noite da terça-feira 17. "Eu vou dizer:" – iniciou – "talvez seja a cena mais trágica que já vi na minha vida". Serra de fato foi ver – e a decisão de estar presente ao local do acidente enquanto as chamas ainda queimavam passaram a fazer a diferença fundamental entre ele e as autoridades do governo federal que apenas assistiram à tragédia, abrigados no conforto de seus gabinetes.

Assim que soube do acidente, cerca de 15 minutos após a queda do Airbus, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, seguiu pela avenida 23 de Maio que dá acesso ao Aeroporto de Congonhas. Não chegou nem a entrar no saguão – um trailer dos bombeiros já estava estacionado como quartel-general dos trabalhos de resgate e foi lá que Kassab recebeu Serra menos de uma hora depois. Protegido por um guardachuva e uma máscara de pano, o governador encarou a chuva persistente e os gases tóxicos do incêndio para, na noite em que a desinformação se somou à perplexidade, ser a única autoridade a vistoriar o centro nevrálgico do desastre. Serra saiu dos escombros como o único a ter a necessária frieza de desfazer ilusões. Perguntado se havia entrado no Airbus anunciou: "Não tem dentro do avião. Ele se desfez." Indagado sobre as chances de haver sobreviventes entre os passageiros, foi o primeiro a cravar: "Não tem, não tem."

O governador foi a Congonhas para ver, mas também porque tinha o que oferecer. Na noite do desastre, chegou com os secretários da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, e da Justiça, Luiz Antônio Marrey, e com o procuradorgeral de Justiça de São Paulo, Rodrigo Pinho. E, como onde o governador vai, o prefeito Gilberto Kassab está por perto, a dupla anunciou a mobilização dos médicos dos hospitais públicos da região para atender os feridos que estavam no prédio da TAM. No caminho para o trailer dos bombeiros, Kassab havia acionado, por telefone, o responsável pela Defesa Civil para colocar em prática um plano de emergência. "São ações interligadas, as possíveis ao alcance da prefeitura e do governo do Estado", disse Kassab. Rodrigo Pinho informou que estava designando o promotor responsável pelas investigações do acidente com o Fokker 100 da TAM, há 11 anos, para acompanhar o novo caso. Só depois disso, Serra e o prefeito foram à Sala de Autoridades de Congonhas, onde se encontravam as autoridades aeronáuticas e familiares das vítimas.

No dia seguinte, enquanto os bombeiros ainda tentavam dominar os últimos focos de incêndio, Serra se reuniu com Kassab e secretários para definir mais algumas ações, como o atendimento imediato pelo IML (estadual) e pelo serviço funerário da prefeitura. Foram gestos necessários e urgentes, que aos olhos dos espectadores mostraram que havia autoridade e um governo capaz de fazer alguma coisa em meio ao caos.