Atenção: o mundo dos carros vai mudar. Ficou para trás o velho estigma que marcou o mercado brasileiro de veículos nos últimos anos: o lançamento de modelos de segunda geração. O marco dessa virada será o próximo Salão Internacional do Automóvel, em São Paulo, a partir de 19 de outubro. O Brasil conhecerá o que há de melhor atualmente em termos de design, tecnologia e qualidade automotiva. Modelos conceituais e lançamentos comerciais up to date serão apresentados ao consumidor nacional quase simultaneamente ao que acontece no Hemisfério Norte. Serão onze dias de pura emoção. O público conhecerá as armas das montadoras para vencer a nova força mundial do setor, que começa a invadir os principais mercados desenvolvidos e também está chegando ao Brasil: a China.

A feira brasileira começa apenas quatro dias depois do término do Mondial de L’automobile, o charmoso Salão de Paris, aberto no último dia 30. Aqui, como lá, as montadoras prometem surpreender os consumidores mais exigentes e os amantes da velocidade. Serão mais de 400 carros em exposição, dos quais cerca de 80 lançamentos de 30 marcas diferentes. O público, estimado em 550 mil pessoas em 11 dias de visitação, será disputado em cada centímetro dos 80 mil metros quadrados do salão no Anhembi.

O conceito Fluence será um dos destaques da Citroën, bem como o novo C4 Picasso. Recém-apresentado em Paris, o C4 chegará às concessionárias da
marca no Brasil em 2007, por cerca de R$ 90 mil. A DaimlerChrysler lançará o
Jeep Grand Cherokee SRT8, por R$ 250 mil, e trará modelos AMG da Mercedes-Benz. A Renault apresenta o Mégane Grand Tour. Na guerra das marcas, General Motors, Volkswagen, Fiat e Ford também terão novidades importadas e nacionais para competir com as estrelas da Nissan, da Audi, da Mercedes-Benz e da Ferrari – a lista é grande.

Pelo menos uma montadora chinesa, a Chana, já confirmou presença. “Três anos atrás, ninguém apostava que os chineses chegariam tão rápido. Mas eles estão aí”, diz Rogelio Golfarb, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). No mundo globalizado, e cada vez mais preocupado com o desenvolvimento sustentável, o Brasil tem muito a ensinar aos chineses. Eles já são o terceiro fabricante mundial de veículos, mas ainda têm tecnologias obsoletas e carros que emitem mais poluentes do que o aceitável. É só uma questão de tempo até que modernizem a produção e se tornem uma grande ameaça por aqui. “Os japoneses e os coreanos também começaram assim”, lembra Golfarb. Por isso, é hora de discutir a competitividade do setor e melhorar o ambiente para os investimentos, defende o dirigente.

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Em questões tecnológicas, o Brasil está bastante avançado. “O automóvel brasileiro em nada fica devendo aos concorrentes internacionais”, afirma o presidente da Fiat do Brasil, Cledorvino Belini. “Ao contrário: é extremamente competitivo em termos de qualidade e tecnologia.” Centenas de jornalistas estrangeiros e executivos do setor automotivo se inscreveram no Salão do Automóvel para conferir pessoalmente algumas especialidades nacionais, como os motores bicombustível – que já equipam quase todos os novos carros de passeio – e os carros movidos a biodiesel.

Para a General Motors, que fabrica veículos em 33 países, o evento é uma oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo todo que atingiu um padrão de classe mundial na criação e na manufatura de automóveis. Foi-se o tempo em que nossos carros eram chamados de carroças e perdiam mercado local até para automóveis russos de qualidade duvidosa. Hoje, o País gera tecnologia e exporta para Estados Unidos, Europa e Ásia. “Temos aqui um dos cinco principais centros de engenharia da corporação em todo o mundo”, diz Pedro Luiz Dias, diretor da GM do Brasil.

Uma das estrelas nacionais da GM no Salão do Automóvel será o novo sedã Prisma. Mostrado à imprensa pela primeira vez na quarta-feira 4, o carro será vendido por R$ 30 mil. É o terceiro modelo da marca 100% desenvolvido no Brasil. É resultado de um investimento de US$ 240 milhões, que inclui uma nova linha de montagem na fábrica de Gravataí, no Rio Grande do Sul, uma das mais modernas da empresa. O estande da Volkswagen terá o Novo Polo, nas versões hatch e sedã. “São modelos que, novamente, alinham o Brasil ao que está sendo produzido na Europa”, afirma Hans-Christian Maergner, presidente da Volkswagen do Brasil. A Fiat irá apresentar o Idea Adventure e a Ford lançará o Fiesta 1.0 Flex. Ambas trarão também carrões importados recém-lançados no Exterior.

A feira ocorre em um momento em que as vendas no mercado interno batem novos recordes. Este ano, até setembro, já foram emplacados 1,3 milhão de automóveis. A previsão dos distribuidores é obter até dezembro um número 11% acima do ano passado e chegar à marca de 1,8 milhão de unidades licenciadas – a segunda maior da história, desde o recorde de 1,873 milhão de veículos em 1987. A produção local de automóveis de passeio e comerciais leves deve chegar a 2,6 milhões de unidades, incluindo as de exportação. O País cresce pouco e perde espaço gradualmente nas exportações, por conta da taxa de câmbio desfavorável, mas tem um mercado consumidor relevante no cenário internacional. “O Brasil está entre os dez maiores mercados de veículos do mundo”, diz Golfarb, da Anfavea. “A inflação baixa e os juros em queda têm impulsionado as vendas.”

As maiores montadoras do mundo, como a GM e a Volkswagen, têm passado por dificuldades financeiras nos últimos anos e tentam achar saídas para sobreviver à competição cada vez mais forte. Demissões em massa e propostas de união de forças têm sido anunciadas. Na quarta-feira 4, a tentativa de parceria global entre Renault, Nissan e GM foi oficialmente descartada, após semanas de conversas. Especula-se que, agora, GM e Ford sentarão à mesa de negociações. Enquanto não surgem novas alternativas, resta aos fabricantes criar novos produtos para seduzir os consumidores. Os gigantes podem até perder mais dinheiro, mas o show da tecnologia não pode parar.

 


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