Algum idiota já disse que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Já imaginou se Donald Trump fosse brasileiro? Não conheço nenhum bilionário populista, racista, sexista, xenófobo e antiglobalização por aqui, muito menos com aquela cabeleira tão ofensiva e falsa como suas palavras disparadas contra mulheres, negros, mexicanos, muçulmanos e chineses na atual corrida eleitoral americana. Eike Batista, nosso bilionário favorito nos tempos em que Deus era tupiniquim e a economia prosperava como nunca antes na história desse País, dizia que seus projetos de grandeza eram “à prova de idiotas”, mas não tinha pretensões políticas. Seus bilhões – e dos incautos que o financiaram – desapareceram junto com a prosperidade da Era Lula, levando consigo muitos fios do seu topete original. 

Com a crise pós-Dilma, fenômeno agravado por arroubos econômicos populistas, intervencionistas, cartoriais, nacionalistas e antimercado, o Brasil perdeu diversos nomes nas listas de bilionários publicadas nos Estados Unidos. Mas continuamos com nossos idiotas, nossa parcela de bolsonaros, cunhas, malufs e tiriricas que fazem do Congresso Nacional o retrato de uma sociedade em ebulição política e social e carente de grandes líderes. Será que a lavagem pública e a jato da roupa suja da política irá sepultar de vez as velhas raposas palacianas e permitirá florescer uma nova democracia, em que a competência administrativa e a lisura com o dinheiro público sejam a regra, em vez da exceção? Ou surgirão outros supostos salvadores da pátria, caçadores de marajás mentirosos ou lunáticos homofóbicos que defendem torturadores e a ditadura militar? A escolha é sua. É de todos nós.

O Brasil está sepultando em vida muitos líderes que ajudaram a escrever a história das últimas décadas, mas precisa se precaver para não ver um forasteiro da política a la Trump dominar a cena eleitoral quando a poeira baixar, como aconteceu na Itália com Silvio Berlusconi. Mas onde estão os políticos honestos e virtuosos com chances reais de vencerem as eleições em 2018 nesse cenário de terra arrasada, em que marinas e eduardos saem de cena junto com os ex-companheiros e não surge ninguém para alimentar a esperança de dias melhores? Uma andorinha erundina pode até protestar e pousar na cadeira da presidência da Câmara, mas, sozinha, não faz verão.

Se pau que nasce torto morre torto e faz o diabo para ficar na Granja do Torto, o jeito é apostar na renovação da política nas próximas eleições. Se for bem-sucedido, o governo de transição de Michel Temer poderá seguir os passos nada lineares de Itamar Franco e preparar o Brasil para um novo ciclo de prosperidade econômica. Não serão dias fáceis, pois há muitos riscos no caminho e muitos que ainda detêm o poder em Brasília são fruto de um sistema político-eleitoral corrompido e, mais cedo ou mais tarde, poderão prestar contas à Justiça. Na economia, os desafios são hercúleos e as coisas podem piorar antes de melhorar. Mas há esperança. E isso é bom.

Em dois anos e meio, os eleitores serão chamados a renovar os ocupantes dos cargos legislativos e executivos nacionais. Que não se deixem enganar pelos velhos discursos de sempre e não votem nos políticos envoltos em escândalos de corrupção e em plataformas eleitorais preconceituosas, pequenas de espírito e incendiárias. Que elejam bons candidatos. A esperança, quem sabe, está no meio do caminho entre os aventureiros e as raposas da política. Donald ou não, quem paga o pato é sempre o povo que o elege. Muitos americanos ainda têm a chance de afastar o perigoso Trump votando em massa em Hillary Clinton. E você, vai votar em quem nas próximas eleições?