Azedou o acarajé do petista e ex-governador da Bahia, Jaques Wagner. Em acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público Federal na Operação Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró declarou que a campanha de Wagner ao governo baiano, em 2006, foi abastecida com propinas da estatal. Hoje, Wagner é ministro-chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff – e pode ser mais um petista a tombar com o fim do governo. Segundo o delator, o esquema teria sido articulado pelo então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. As denúncias de Cerveró foram reproduzidas no pedido enviado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para a inclusão de mais 29 políticos no rol de investigados pelo inquérito que apura o funcionamento de uma organização criminosa na Petrobras, conhecido como “quadrilhão”.

O documento está sob sigilo e foi recebido pelo Supremo Tribunal Federal na segunda-feira 2. De acordo com Cerveró, parte dos recursos desviados veio da diretoria de Abastecimento da Petrobras, por meio de operações de trading internacional. A construção de um prédio destinado a transferir a área financeira da estatal para Salvador também teria funcionado como origem de recursos ilícitos direcionados para a campanha de Wagner. “Não havia nenhuma necessidade de mudança da área financeira para Salvador, sendo isso uma decisão de Sérgio Gabrielli para beneficiar a candidatura de Jaques Wagner e sua própria futura e eventual candidatura”, diz um trecho da delação.

Em seu depoimento, o delator detalhou o funcionamento do esquema explicando como se dava o escoamento da propina. “Qualquer alteração de centavos no preço de comercialização do barril leva a diferenças gigantescas na aquisição final. Aí reside uma grande margem para propinas, por se tratar de um grande volume de recursos de difícil controle”, acrescentou Cerveró. Temendo o infortúnio, nos últimos dias, Wagner iniciou uma negociação para integrar o secretariado do governador Rui Costa (PT), na Bahia, consumado o impeachment de Dilma no Senado. Com isso, caso Wagner se torne investigado na Lava Jato, ele terá como foro o Tribunal de Justiça da Bahia. Bem longe de Curitiba e Sérgio Moro.