Há cerca de três semanas, o vice-presidente, Michel Temer, foi surpreendido por uma chantagem. Pessoas não identificadas lhe pediam dinheiro e ameaçavam divulgar pelas redes sociais parte dos arquivos do computador pessoal de Marcela Temer, futura primeira dama do País, caso se concretize o afastamento de Dilma Rousseff na quarta-feira 11. A princípio, Temer imaginou tratar-se apenas de um trote. Em poucas horas, porém, depois de os chantagistas lhe descreverem o conteúdo de algumas mensagens eletrônicas trocadas por Marcela com familiares, o vice-presidente teve a certeza de que de fato hackers haviam invadido o computador de sua mulher. Um caso gravíssimo de espionagem envolvendo uma das maiores autoridades do País. Sem saber se está diante de criminosos comuns ou de uma orquestrada ação política com o objetivo de procurar desestabilizar o provável novo presidente, a equipe que acompanha Temer resolveu dar ao caso o tratamento de segredo de estado. E, ao contrário do que recomenda o manual do poder, o vice-presidente não acionou a Polícia Federal. Avaliou que nesse momento de transição política poderia encontrar na PF um terreno arenoso. Para investigar a espionagem, foram selecionados a dedo alguns especialistas da Polícia Civil de São Paulo. Os primeiros resultados encontrados a partir de perícias técnicas mostram que realmente a primeira dama foi hackeada e que os dados de seu computador pessoal foram copiados por equipamentos inicialmente localizados em São Bernardo do Campo e em Santo André. São duas cidades da região metropolitana de São Paulo com forte influência do PT e onde as disputas políticas costumam ser acirradas.

“Não temos a certeza de que houve um crime político, mas não podemos descartar essa hipótese de forma alguma”, disse, na manhã da quinta-feira 5, um delegado paulista, que se recusa a dar qualquer outra informação sobre as investigações. “O fato de ter sido feita uma chantagem de ordem financeira pode ter sido apenas uma forma de procurar desviar nossas apurações”, explicou o policial. Também no Palácio Jaburu, onde está instalado o QG de um pré-governo Temer, ninguém fala sobre o assunto. É mais fácil vazar o nome de algum ministeriável do que alguma informação sobre a espionagem. O vice-presidente só toca nesse assunto com duas ou três pessoas, além do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre Moraes, cotado para assumir um cargo de primeiro escalão no futuro governo. Na terça-feira 3, o vice-presidente mostrou-se absolutamente irritado quando a notícia sobre o ataque ao computador de Marcela foi veiculada pelo jornalista Claudio Humberto no site Diário do Poder.

Além de e-mails trocados por Marcela com familiares e amigos do casal, os hackers também copiaram do computador da futura primeira dama uma série de fotografias e senhas bancárias, que não chegaram a ser usadas. Aos poucos interlocutores que comenta sobre o caso, Temer afirma que “não havia nada demais” nos dados obtidos pelos hackers, mas avalia que não pode deixar passar em branco um crime dessa natureza e que precisa haver punição aos responsáveis. A ideia inicial do vice-presidente é dar ampla divulgação ao caso logo que sejam encerrados os trabalhos da polícia.