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O vice-presidente Michel Temer soube às 7 horas da quinta-feira 5 que o ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal, tomara a decisão de determinar o afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara e também do mandato parlamentar. A notícia foi recebida com alguma surpresa e um discreto entusiasmo. Desde que o processo do impeachment de Dilma Rousseff começou a transitar no Congresso, Temer e Cunha se aproximaram. O problema é que Cunha vinha interferindo na formação de um futuro ministério, segundo auxiliares de Temer, de forma muito mais incisiva do que gostaria o vice-presidente. Nas últimas semanas, Temer chegou a manifestar a alguns correligionários que a proximidade de Cunha vinha dificultando suas movimentações em busca de um futuro ministério com nomes notáveis. Na sexta-feira 6, com Cunha praticamente fora do jogo, o vice-presidente planejava retomar algumas das conversas que haviam sido travadas e, com os principais auxiliares, buscava encontrar um discurso adequado para tratar da sucessão na Câmara. Em menos de 24 horas, partidos do chamado centrão e até o PSDB encaminharam ao vice presidente pleitos para que ele busque interferir politicamente na sucessão de Cunha.

Entre as pessoas que o vice pretende conversar nos próximos dias, de acordo com três de seus auxiliares mais diretos, estão Viviane Senna, Eliana Calmon, Abílio Diniz, David Uip e Josué Alencar. Não se trata, necessariamente, de convites para este ou aquele ministério, mas o vice presidente buscará respaldo dessas personalidades para seu futuro governo. É verdade que o afastamento de Cunha poderá ajudar o vice-presidente a “qualificar” seu futuro ministério, mas, na prática, Temer está se vendo obrigado a “engolir” um fisiologismo maior do que o que pretendia inicialmente. “Ele (Temer) sabe que precisará ceder a algumas legendas para garantir a governabilidade e estabilidade no início de um novo governo, mas esperava menos fisiologismo e mais notoriedade em sua futura gestão”, disse à ISTOÉ um dos mais frequentes interlocutores de Temer. Diante da pressão exercida pelos aliados, o ainda vice-presidente resolveu blindar a economia do fisiologismo, o que é vital para o futuro governo. Essa questão será tratada por basicamente três pessoas: ele próprio, Henrique Meirelles e José Serra. Moreira Franco, Romero Juca e Gedel Veira Lima tratarão de questões mais políticas e do relacionamento com os demais partidos. Inicialmente, Temer também esperava contar com um nome notável no Ministério da Justiça, mas tem encontrado dificuldade para isso. Seu sonho era contar com o ex-ministro do STF, Carlos Ayres Brito. Não deu certo. Então, o vice recorreu ao amigo criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira. O advogado tem excelente prestígio junto aos colegas e bom trânsito nos tribunais superiores. Mas Mariz já se declarara contra a delação premiada, carro chefe da estratégia de apuração da operação Lava Jato, e isso impediu que ocupasse o cargo. Temer então convidou Mariz para o ministério da Defesa. Na noite de quinta-feira, por WhatsApp, o advogado encaminhou mensagem a Temer, recusando o convite.

“Não está fácil”, diz um antigo assessor do vice-presidente. “Esperávamos que os partidos comprassem a ideia de indicar nomes notáveis, mas boa parte das legendas insiste nas indicações meramente políticas e fica praticamente impossível sair desse círculo”. O problema é que algumas dessas indicações veem repercutindo muito mal nas áreas a que são afetas. O nome de Renata Abreu para a secretária de Direitos Humanos, por exemplo, não foi bem recebido. Trata-se de uma pasta que costuma aglutinar pessoas com um perfil mais progressista, ligadas às universidades, e Renata já se posicionou ao lado da conservadora bancada evangélica num projeto que dificulta o aborto legal a vítimas de estrupo. O mesmo ocorre com a indicação do PRB para que Marcos Pereira, presidente nacional da legenda e bispo afastado da Igreja Universal do Reino de Deus, para o ministério de Ciência e Tecnologia. Por mais que Pereira tenha se colocado como alguém que não colocará a religião no debate, a comunidade científica não aceita a indicação. “Casos como esse também nos incomodam, mas precisamos construir uma estabilidade parlamentar”, diz o antigo assessor de Temer. O problema, como diz o jurista Hélio Bicudo, um dos autores do pedido do impeachment de Dilma, é que um ministro indicado por um partido que não tenha conhecimento da área onde vai atuar, acha que deve mais satisfações ao presidente da legenda do que ao presidente da República.