Sabe ‘quem’ preserva o corpo no processo de envelhecimento? O cérebro. A recente descoberta foi feita por cientistas americanos durante pesquisa sobre o envelhecimento saudável. Participaram do estudo 511 pessoas com 80 anos ou mais, que mantêm invejável resistência aos efeitos da idade, permanecendo intelectual e fisicamente ativos. O objetivo era entender o que leva estes idosos a, independentemente de hábitos alimentares e exercícios físicos, serem capazes de superar a condição biológica e se manterem saudáveis. Os voluntários, todos americanos, tiveram os DNAs analisados detalhadamente. A resposta não veio dos genes já identificados como relativos ao envelhecimento e à longevidade – que nem sempre vem acompanhada da saúde –, mas sim daqueles que ditam o funcionamento do cérebro. Foi encontrada uma rara variação genética que torna o órgão capaz de se proteger do declínio, e as pesquisas indicam que essa é a chave para o corpo se manter conservado e saudável. Os primeiros resultados foram apresentados no dia 21 de abril, apontando uma conexão entre a saúde cognitiva a longo prazo e a proteção contra doenças crônicas, e de males como Alzheimer e distúrbios coronarianos.

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VITALIDADE
Acima, Maria Amélia Domingues, que, aos 91 anos, afirma nunca ter ficado
doente. Abaixo, Eric Topol, coordenador da pesquisa americana

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Os voluntários selecionados têm de 80 a 105 anos e não desenvolveram nem sequer males ligados à idade. “Achávamos que haveria uma sobreposição de grupos entre aqueles que permanecem naturalmente saudáveis e os que conseguem ter longa vida com auxílio da medicina moderna, mas não houve. Concluímos que a proteção natural contra o declínio cognitivo está associada ao prolongamento da healthspan (o período da vida no qual a pessoa está geralmente saudável e livre de doenças sérias)”, diz o coordenador da pesquisa, Eric Topol, diretor do Scripps Translational Science Institute (STSI), nos Estados Unidos. A inusitada variação ocorre no gene COL25A1 que leva, normalmente, o corpo a despejar no cérebro proteínas que atraem uma substância chamada placa de amiloide (que concentra enorme quantidade de proteínas e bloqueia a comunicação entre os neurônios), encontrada frequentemente em grandes quantidades nos cérebros de pacientes com doença de Alzheimer.

Já a versão alterada do gene carrega um fator de proteção que faz as proteínas secretadas no cérebro atraírem e absorverem os amiloides, impedindo que causem o mal. Apesar de estarem trabalhando na pesquisa desde 2007, os cientistas afirmam que estes são apenas os primeiros resultados. Voluntários ainda estão sendo convocados e o objetivo é alcançar dois mil participantes com o DNA completamente analisado. “Essa variação pode ser o caminho para encontrar outras proteções naturais similares para diferentes áreas do corpo” afirma o diretor de informática genômica da pesquisa, Ali Torkamani. “É preciso reiterar, no  entanto, que não encontramos uma bala de prata para a longevidade, mas variações raras que precisam ser mapeadas.” Especialistas não envolvidos na pesquisa foram mais otimistas e comemoraram os resultados. O professor de genética da Universidade de Stanford (EUA), Michael Snyder, disse que o estudo é interessante por ser o primeiro a usar sequenciamento genético para focar na saúde. “A maioria dos cientistas do mundo estuda doenças, mas o que realmente queremos entender é o que nos mantém saudáveis”, afirmou. O fundador do Instituto Icahn de Genômica e Biologia Multiscalar no Monte Sinai (São Francisco, EUA), Eric Schadt, concordou: “O trabalho apresenta uma alternativa atraente ao estudar aqueles que estão bem para descobrir as soluções que a natureza providenciou para protegê-los.”

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A portuguesa radicada no Brasil Maria Amélia Domingues, 91 anos, não sabe explicar o motivo pelo qual se mantém sempre saudável e com inacreditável vitalidade. “Nunca fiz dietas, inclusive já fui bem gordinha quando era nova”, diz ela. Atividades físicas? “Meu exercício foi trabalhar, cuidar da minha casa e das minhas plantas.” O coordenador da pesquisa ressalta que o próximo passo é justamente abrir o leque para outras ascendências e nacionalidades. Por isso colocou toda a base de dados genéticos utilizados à disposição de outros cientistas que desejarem criar novas linhas de pesquisa similares. Diz que seu objetivo é “incentivar estudos que busquem aprender com a natureza em vez de escavar acervos de moléculas atrás de potenciais drogas artificiais que prometam o envelhecimento saudável”. 


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