Com enorme frequência, nos últimos 25 anos o noticiário político do País misturou-se às páginas policiais. De 1992 – quando Fernando Collor foi apeado do poder – para cá, o Brasil assistiu a uma enormidade de casos de corrupção, autoridades flagradas em conversas nada republicanas e outras ilicitudes de repercussão nacional. Boa parte desses escândalos passou pelo laboratório do perito Ricardo Molina, que agora, em livro a ser lançado na próxima semana, revela detalhes sobre os principais casos em que trabalhou. A leitura dos estudos, das angústias, dos laudos e pareceres emitidos pelo perito remete á história contemporânea do País. Nas 388 páginas de O Brasil na Fita, Molina conta os bastidores de histórias de grande repercussão política que levaram à queda de poderosos como o ex-presidente do Congresso Antônio Carlos Magalhães. Mas, além dos delitos com conotação política, o perito que estudou engenharia na UFRJ, se graduou em música, fez mestrado em linguística e doutorado em Ciência na Unicamp, revela o lado oculto de crimes violentos que abalaram a opinião pública, como por exemplo a chacina de Vigário Geral, o caso Gil Rugai, o acidente que vitimou o grupo Mamonas Assassinas e muitos outros.

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MINUCIOSO
Em seu laboratório, Molina procura enxergar e ouvir o que os leigos deixam passar em branco

“Como perito não posso ter opinião, apenas posso relatar aquilo que encontrei e pesquisei nos objetos analisados”, costuma dizer Molina. “O importante é sempre observar e encontrar o que normalmente passa desapercebido a um leigo”. E foi com essa análise criteriosa, que Molina conseguiu contribuir de forma decisiva para a elucidação do massacre dos sem terra em Eldorado do Carajás. Um exame realizado pelo perito nas imagens gravadas no local em que, em abril de 1996, 19 sem terras foram brutalmente assassinados por policias foi fundamental para que o caso fosse reaberto. Divulgado com exclusividade por ISTOÉ, o trabalho de Molina levou para o banco dos réus autoridades policiais do Pará que estavam impunes há mais de quatro anos. No livro, o perito conta detalhes das cenas analisadas e descreve a ação do Ministério Público e do Judiciário.

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Também foi Molina o responsável por periciar uma fita divulgada por ISTOÉ na qual o então presidente do Congresso Antônio Carlos Magalhães confessara ter tido acesso aos votos sigilosos de seus pares que cassaram o Luiz Estevão. A revelação era a prova de que ACM havia fraudado o painel de votação. Apesar das negativas do senador, Molina demonstrou de forma científica que era verdadeiro o teor da fita revelado pela revista. O poderoso senador acabou renunciando.

São a casos como esses e muitos outros que o O Brasil na Fita coloca o leitor frente a frente com os acontecimentos, as manobras praticadas pelas partes envolvidas e as pressões exercidas sobre aqueles que têm o dever de buscar a verdade.

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BUSCA DA VERDADE
Trabalho de Molina revelado por ISTOÉ reabriu o caso

sobre o massacre de Eldorado do Carajás (PA)

Foto: ROBERTO DE BIASI/AE