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No fim da tarde desta segunda-feira 18, minutos depois de se livrar dos pontos de uma cirurgia realizada no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para retirada da vesícula, o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) concedeu uma entrevista exclusiva à ISTOÉ. Na conversa, o senador discorreu sobre o atual cenário político à luz da aprovação pela Câmara da abertura do processo de impeachment. Para ele, embora o Senado já tenha votos para afastar a presidente Dilma Rousseff, o governo tentará ganhar tempo para deflagrar uma operação de desconstrução do vice Michel Temer e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Ao falar sobre as investigações em curso, Delcídio questionou o fato de o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ainda permanecer impune, a despeito das fortes evidências contra ele. “Há um trem descompensado aí. Eu, por muito menos, enfrentei esse calvário que você conhece. E o Mercadante? Olha, e isso tem implicações para a própria presidente Dilma. O Aloizio Mercadante não faz nada sem a Dilma mandar. Isso que eles fizeram é claramente obstrução de Justiça”. Ao mesmo tempo, segundo o parlamentar, o presidente do PSDB, Aécio Neves, virou alvo por situações colocadas à base do “ouvir dizer”. O senador ainda disse que poderá aperfeiçoar trechos da delação e ajustar pontos para “não cometer injustiças”.

ISTOÉ – Como o sr. avalia o cenário após a votação do impeachment pela Câmara?

Delcídio do Amaral – Já há votos pelo afastamento de Dilma no Senado. Agora, é preciso trabalhar pelo impeachment em si. Pelos 54 votos. Acho que vai passar. A única preocupação é o tempo. Estão trabalhando com a votação em 12 de maio. Imagina o País três semanas esperando? Ninguém exporta, ninguém compra, ninguém investe. O País fica trabalhando na lateral. Mas a posição do Senado está se consolidando fortemente.

ISTOÉ – O governo pode faturar politicamente com esse tempo?

Delcídio do Amaral – O governo vai jogar na desconstrução do vice Michel Temer e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). É pouco provável que o governo chegue a um número suficiente para evitar o impeachment. O único jeito é criar um cenário fora da Casa. E a maneira é jogar na desconstrução. Se eu conheço bem o governo, vão apostar nisso. O governo não tem mais capacidade de fazer gestões políticas. Falei com deputados que estiveram com a presidente Dilma Rousseff nesses últimos dias. Que foram conversar com ela. A Dilma nem sabia o nome dos caras, acredita? É como eu ir à ISTOÉ e não saber seu nome. O governo cometeu uma série de erros na política responsável por levar a essa situação difícil em que se encontra. Ainda há a crise econômica. Então você junta a crise econômica, a crise política e, na outra ponta, a Operação Lava Jato. É o pior dos mundos para o governo.

ISTOÉ – Sobre a Lava Jato, na avaliação do sr. até onde podem chegar as investigações?

Delcídio do Amaral – Olha, há um trem descompensado aí. Eu não tinha conhecimento da gravação do ministro (da Educação) Aloizio Mercadante (gravação feita pelo seu assessor José Eduardo Marzagão em que Mercadante tenta comprar o silencio de Delcídio). Só soube depois. E não tirei as razões do Marzagão de fazer aquilo. Só que é um caso que já tem jurisprudência no STF. E não acontece nada com o Mercadante? O meu caso era uma conversa a quatro onde quem gravou nem era o interlocutor principal. E eu, por muito menos, enfrentei esse calvário que você conhece. E o Mercadante? Olha, e isso tem implicações para a própria presidente Dilma. O Aloizio Mercadante não faz nada sem a Dilma mandar. Isso que eles fizeram é claramente obstrução de Justiça. Há um trem descompensado aí. Não fazem nada com Mercadante. Agora falam do Aécio. Por exemplo, o Aécio é o principal líder da oposição. Mas tudo o que pesa contra ele é na base do ouvir dizer. O do Mercadante e que implica Dilma, não. É factual. Ta aí.

ISTOÉ – O sr. ainda pretende fazer uma segunda etapa da delação?

Delcídio do Amaral – Na verdade eu fiquei os últimos quarenta dias me recuperando. Tive reflexos de saúde. Não poderia trabalhar em cima de um material que vocês publicaram com muita competência, que foi a delação. Pretendo afinar algumas coisas já ditas. Qualificar melhor, aperfeiçoar. Isso é natural. É uma iniciativa própria minha. Pretendo trabalhar nisso. Mas não é uma segunda delação. É fazer ajustes. E vou fazer. Na busca da verdade dos fatos. Vou fazer ajustes até para não cometer injustiças com ninguém.