Com a chegada do pedido de impeachment ao Senado Federal, a expectativa é de que até a segunda semana de maio seja votada a admissibilidade do processo. Entre os senadores, o sentimento é de que a Casa deverá confirmar o entendimento pró-impeachment da Câmara. Com a admissibilidade, a presidente Dilma Rousseff é automaticamente afastada por até 180 dias, enquanto assume o vice Michel Temer (PMDB). Para que o processo seja aceito, é necessária maioria simples, ou seja 41 dos 81 senadores. Já a votação final, que oficializaria o impeachment, requer dois terços dos votos, o que soma 54 senadores. Hoje, 45 se posicionaram declaradamente a favor do impeachment, 19 contra e 17 estão indefinidos.

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FIM DA LINHA O Senado não tem disposição, nem votos, para barrar o impeachment 

O senador tucano José Serra (PSDB-SP), que acompanhou de perto a votação deste domingo 17, acredita que é uma questão de tempo até que o impeachment seja confirmado. "Vai passar no Senado. Não é motivo para sair comemorando, mas o impeachment é inexorável", afirmou o tucano à ISTOÉ. Na análise do ex-governador e senador Álvaro Dias (PV-PR), a oposição conseguirá reunir com "tranquilidade" os votos necessários para a admissibilidade e, uma vez afastada, dificilmente Dilma conseguiria retornar ao Palácio do Planalto. "Aí, o país já passa a viver outra realidade e, embora a pressão popular continue, a pressão do poder também passa a existir. Ocorrem as composições, as alianças e já tem muita gente se abraçando por aí", afirma o paranaense.

Fundador do PT e recém-desfiliado do PDT, o senador e ex-governador Cristovam Buarque (PPS-DF) anunciou recentemente o apoio à admissibilidade, embora considere "grave" o país ter metade de seus quatro presidentes pós-redemocratização impitimados. Segundo Cristovam, o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) é uma "peça séria" que merece ser discutida a fundo. "Mas se passar com a ideia de que foi um julgamento puramente político, aí o cheiro de golpe continua. Temos de trabalhar para evitar isso", diz o senador que, desde o ano passado, alerta para o que chamava então de "contabilidade criativa" do governo, um prenúncio das pedaladas fiscais.

Segundo interlocutores, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve convocar uma reunião de líderes partidários já nesta semana, para definir o rito do processo na casa. Embora próximo do governo, o alagoano já indicou que não pretende protelar o processo, nem, tampouco, acelerá-lo. Até semana passada, Renan evitava falar abertamente sobre o assunto e, questionado sobre suas expectativas acerca da votação na Câmara, chegou a dizer que não era "cartomante". "A única coisa que eu posso garantir, e o país sabe que é exatamente o que vai acontecer, é que eu conduzirei o Senado com isenção, com responsabilidade, com independência. E seguiremos o calendário já adotado em circunstâncias iguais", disse o peemedebista a jornalistas.

Nos próximos dias, Renan deve consultar o Supremo Tribunal Federal (STF) para esclarecer algumas dúvidas sobre o rito do processo na Casa. Não se sabe se a composição da comissão obedecerá o tamanho das bancadas dos partidos ou dos blocos. Além disso, deve-se determinar se a indicação do presidente e do relator da comissão respeitará a maior bancada, como é feito tradicionalmente, ou se ocorrerá uma eleição. Há também questionamentos com relação ao prazo que a comissão terá para apresentar um relatório sobre a admissibilidade e votá-lo. Pela lei, a previsão é de dez dias, mas não se sabe se corridos ou úteis.

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Embora PMDB e PT tenham as maiores bancadas, o mais provável é que a relatoria seja assumida por parlamentares de siglas como o PP e o PSDB. Entre os nomes que já foram ventilados, estão Ana Amélia (PP-RS), Gladson Cameli (PP-AC) e Aloysio Nunes (PSDB-SP). Os três são declaradamente favoráveis ao impeachment. Inicialmente, o líder do PMDB no Senado, Eunício de Oliveira (CE), chegou a ser cotado. O cearense recusou a tarefa, receoso de que ela poderia prejudicar sua candidatura à presidência do Senado, em 2017. Nos bastidores, porém, a avaliação é de que dificilmente a relatoria influenciará no voto dos parlamentares, uma vez que que as posições já estão praticamente todas definidas e que somente fatos externos ao Senado – como o avanço da Lava Jato e uma eventual capacidade de mobilização da militância petista – poderiam interferir na decisão final.


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