Na batalha do impeachmeant, a pressão popular tem sido a maior força para tentar converter os derradeiros indecisos. E os parlamentares que ainda estão em cima do muro sentiram na última semana o poder do povo. Receberam telefonemas, torpedos, visitas aos gabinetes, protestos em frente às suas residências e um bombardeio de mensagens nas redes sociais. Iniciativas de organizações e cidadãos independentes reforçando o coro de 61% da população brasileira que, segundo pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha divulgada no sábado 9, apoiam o afastamento da presidente. Em meio a esse movimento espontâneo, deputados são assediados no bunker montado no hotel Royal Tulip, em Brasília, onde o ex-presidente Lula está hospedado. Lá, foi montado um verdadeiro balcão de negócios, onde cargos são oferecidos em troca de apoio à manutenção do governo petista. Resta saber se esses parlamentares ainda indefinidos estão preocupados com seus bolsos ou com o eleitor. ISTOÉ ouviu eleitores desses deputados que ainda não definiram seus votos para saber se eles estão satisfeitos com seus representantes no Congresso.

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As organizações independentes também estão se movimentando. Um dos principais grupos oposicionistas, o Movimento Brasil Livre (MBL) montou na última semana uma verdadeira estratégia de guerra para virar os últimos votos. “A gente chama de Operação Minerva,”, diz Kim Kataguiri, representante do MBL que viajou a Brasília para acompanhar a mobilização do fim de semana. Ao todo, os ativistas instalaram cerca de 70 outdoors com o rosto dos parlamentares indecisos ou contrários à saída de Dilma em 14 estados brasileiros. A iniciativa se soma a um corpo a corpo-a-corpo diário realizado por dezenas de militantes de movimentos como o MBL, o Vem Pra Rua e o Revoltados Online pelos corredores da Câmara. Há meses, eles abordam parlamentares em busca de posicionamentos em vídeo para divulgar nas redes sociais. Os ativistas também divulgaram os telefones pessoais de políticos, para incentivar internautas a reforçarem a cobrança.

Um dos saldos mais positivos comemorados pelo MBL foi o anúncio de que o bloco composto por 30 deputados do PTN, PHS, Pros, PSL e PEN dará 26 votos a favor do impeachment. “A gente fez uma campanha forte para que a Renata Abreu (PTN-SP) não aceitasse receber a direção da Funasa em troca do impeachment”, afirma Kataguiri, em referência ao uso da Fundação Nacional da Saúde (Funasa) como moeda de troca pelo governo.

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Além da pressão virtual, os deputados também se preocupam com o impacto que a decisão de domingo 17 terá junto ao eleitorado. O gaúcho Pompeo de Mattos (PDT), cujo partido fechou questão contra o impeachment, terá dificuldade em obter votos em seus redutos eleitorais caso siga a orientação partidária. O parlamentar até agora não se decidiu sobre o tema. “Se ele votar contra o impeachment, acreditarei pela minha vida inteira que é um defensor da roubalheira”, diz a empresária Christiana Garcia. Filiada ao PDT, ela pediu votos e deu até carona para Pompeo durante a campanha no município de Restinga Seca. Christiana diz sofrer as consequências da gestão Dilma. O faturamento de sua casa de chá caiu 20% ano passado. Ela teve de despedir dois funcionários.

Deputado federal por Pernambuco, Carlos Eduardo Cadoca (sem partido – PE) tem desagradado alguns eleitores mais antigos, que ainda têm esperança de que ele vote a favor do impeachment. “Votei no deputado Cadoca porque ele prestou relevantes serviços ao Estado de Pernambuco”, afirma a psicóloga e empresária Viviane Moreira Lacerda, 46 anos, moradora de Recife. “Toda minha família vota nele.” Para Viviane, é inaceitável que um representante de seu Estado “fique a favor de um governo deliquente, levando milhões de pessoas ao desemprego e à falta total de assistência nas áreas de saúde e educação.” Ela acredita, porém, que o deputado seguirá a voz das ruas na hora da votação. “Eu o conheço bem, é muito provável que será favorável. Se ele for contrário, será uma grande decepção e um desastre na sua brilhante carreira política”, diz.

O deputado mineiro Silas Brasileiro (PMDB) também tem decepcionado alguns eleitores. O engenheiro Cesar Honório Paulo de Souza, de 23 anos, da cidade de Lagoa da Prata, é um deles. “A gente que é jovem se decepciona mais. Se ele não votar pelo impeachment, não votarei mais nele e vou desaconselhar os amigos a votar. Everton Novaes, 33 anos, é inspetor de qualidade na cidade de Paulo Fonseca (BA), onde mora, e foi um dos 14.520 eleitores do município que votaram no deputado Mario Negromonte Jr. (PP/BA), outro parlamentar que se declara indeciso. “É decepcionante saber que um político da nossa região, lugar onde ele mais recebeu votos, está contra o nosso País”, diz Everton. “Ele não está honrando os votos que recebeu e nunca mais terá o meu.”

Até pouco tempo indeciso, o deputado Hugo Leal (PSB-RJ) seguirá a orientação da bancada pró-impeachment, mas também começava a decepcionar parte de seu eleitorado mais fiel.  Apoiador do parlamentar desde a criação da Lei Seca, em 2008, o administrador e morador de Petrópolis (RJ) Gabriel Fercher, de 26 anos, cobrava uma decisão urgente. “Esperava mais do que essa indecisão até os 45 minutos do segundo tempo. Petrópolis tem um histórico ruim nas relações com o PT e, com a crise econômica, o polo comercial da região está cheio de lojas fechando”, afirma. “Assim como fiz campanha a favor dele nas últimas eleições, nas próximas também posso fazer campanha contra”, diz Fercher, que acredita que o apoio de Leal ao impeachment terá impacto positivo sobre uma eventual candidatura à prefeitura da cidade.

Fotos: Ruy Baron; Richard Silva, LUCIO BERNARDO JR.