Por esta, nem o humorista José Simão, autointitulado presidente do Partido da Genitália Nacional (PGN), esperava. O impoluto deputado Paulo Maluf (PP-SP) declarou-se indignado com a compra de votos que o governo Dilma estaria fazendo com seus colegas de partido para livrar a presidente da fogueira do impeachment.

“O governo está se metendo num processo de compra e venda que é detestável. Querem constituir maioria no Legislativo dividindo o Executivo. Não é bem assim”, afirmou o deputado ao jornal “Folha de S. Paulo”, no qual o macaco Simão publica diariamente as pérolas políticas e sexuais do “País da Piada Pronta”. O nobre parlamentar do PP – conhecido pelos pragmáticos eleitores de São Paulo como um político que “rouba, mas faz” – tem tanta autoridade moral para mostrar-se indignado com a corrupção quanto o senador e ex-presidente Fernando Collor de Melo (PTB-AL), que saiu correndo do Planalto a bordo de um modesto Fiat Elba e hoje, aliado de Dilma e Lula, pilota carros superesportivos, uma das paixões do colega de decoro Paulo Maluf.

Revoltado, o novo paladino da moralidade nacional diz que acredita na inocência da presidente e, como também já foi acusado de corrupção no exercício dos cargos que ocupou na prefeitura paulistana e no governo do Estado de São Paulo, demonstrou uma grande compaixão pela aliada petista. “Eu já sofri muita injustiça na vida pública, portanto eu não posso cometer uma injustiça contra uma pessoa correta”, defendeu Maluf, com os sentimentos à flor da pele semanas depois de ter sido condenado à revelia, na França, a três anos de prisão por lavagem de dinheiro em território francês entre 1996 e 2005. Sinceramente, o país que produz os vinhos mais cobiçados e caros do mundo, que recheiam a adega particular de Santo Paulo e servem de pretexto para o recém-nascido admirador de Joaquim Barbosa demonstrar seu profundo conhecimento sobre os preços de cada garrafa e safra, não poderia ter-lhe feito uma desfeita dessas! Como serão seus brindes quando Lula e o prefeito Fernando Haddad posarem para a próxima foto de apoio ao candidato petista na corrida eleitoral paulistana? Terão, quem sabe, sabor de mofo e aroma de rolha, como as piores garrafas do estilo bouchonné que acomete a política brasileira desde os início dos tempos.

Depois de ignorar as oito sessões iniciais da Comissão do Impeachment, aquele que “rouba, mas falta“ (mais uma piada pronta descrita pelo presidente do PGN) colocou a mão na consciência e espantou a tentação de molhar suas palmas pelo suposto dinheiro sujo do governo. “Quando acho que devo votar, eu voto de graça. Quando eu acho que não devo votar, não tem cargo que me faça mudar de ideia”, bradou, com um pouco menos de convicção que se poderia esperar do novo fã de Janaína Paschoal, a enérgica coautora do pedido de impedimento da presidente por conta das pedaladas com o dinheiro público. E, a la Sergio Moro, ameaçou com sua particular Lava Jato de luxo (as Ferraris e os Porches, afinal, merecem mãos limpas e cuidadosas): “Estou investigando e vou investigar membros de meu partido”. É tanta indignação no escândalo de compra de votos que Maluf sente-se liberado para votar a favor do impeachment se ficarem comprovadas as ofertas ao partido. Na quarta-feira 6, um dia depois de ele receber o sopro gelado da honestidade, o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, anunciou ao povo que os correligionários ficarão com seus cargos (os velhos e os novos) no governo até segunda ordem. Inspetor Maluf terá muito trabalho para honrar a sua bravata. 


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