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A força-tarefa da Operação Lava Jato investiga se o marqueteiro do PT João Santana recebeu parte dos R$ 12 milhões emprestados no Banco Schahin de forma fraudulenta pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, a pedido do PT. O publicitário – preso desde 23 de março, em Curitiba – foi o responsável pela campanha do ex-prefeito de Campinas (SP) Hélio de Oliveira Santos (PDT), o Dr. Hélio, em 2004, apontada em depoimentos como beneficiária dos recursos

Por meio de um empréstimo simulado, em 2004, compras fictícios de sêmens de gado de elite, contratos de mútuos e o direcionamento de um contrato de US$ 1,6 milhão da Petrobrás, o PT teria operacionalizado o desvio de R$ 12 milhões dos cofres públicos. Bumlai foi o tomador do empréstimo, que repassou a totalidade para contas do Grupo Bertin, para depois ser distribuído em duas frentes. Uma delas leva o dinheiro até Ronan Maria Pinto e a compra do Diário do Grande ABC – alvo da última fase da Lava Jato batizada de Carbono 14.

A outra, que chega até o marqueteiro do PT, leva aos empresários Armando Peralta e Giovani Favieri. Preso desde novembro de 2015, alvo da 21ª fase batizada de Passe Livre – referência ao acesso que tinha ao Planalto no governo Lula – Bumlai apontou os nomes dos dois empresários e do então presidente do Banco Schahin como propositores da operação. O verdadeiro beneficiário do negócio o PT, por meio do ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares e o ex-ministro José Dirceu. Os três negam envolvimento.

Em 2004, os dois trabalhavam na campanha do prefeito de Campinas e repassaram R$ 600 mil para a Santana e Associados Marketing e Propaganda, empresa do marqueteiro do PT. “Primeiro os que mais precisam” foi o slogan criado por João Santana para trabalhar a imagem popular de Dr. Hélio na disputa.

Apesar de ser do PDT, o prefeito teve sua candidatura bancada pelo PT nacional, com atuação direta de Dirceu. Os investigadores da Lava Jato querem saber qual a relação entre os R$ 12 milhões – nunca pagos formalmente ao Banco Schahin – e o repasse para João Santana.

A pagadora foi a Núcleo de Desenvolvimento Estratégico da Comunicação (NDEC), nome oficial da produtora VBC, que pertence a Armando Peralta e Giovane Favieri.

Ao mandar prender Ronan, a força-tarefa da Lava Jato cita os dois pagamentos. “A princípio, ele (Ronan) não era um marqueteiro de campanha que justificaria o repasse de valores para pagar dívidas de campanha, como seria o sr Armando Peralta e Giovani Favieri que, de acordo com o depoimento do sr José Carlos Bumlai receberam a outra metade dos R$ 12 milhões para pagar dívida de campanha do prefeito de Campinas, na época”, afirmou o procurador da República Diogo Castor de Mattos, nos autos da Carbono 14.

Segundo ele, a Procuradoria tem uma investigação em aberto sobre a lavagem na destinação da outra metade dos R$ 12 milhões emprestados por Bumlai. “Estamos investigando ainda essa remessa da outra parte do dinheiro”, disse o procurador.

“Em outubro de 2004, em São Paulo, no período da noite, (Bumlai) recebeu um telefonema de Sandro Tordin, Armando Peralta Barbosa e Giovane Faviere, não se recordando, com precisão, qual teria sido o interlocutor, uma vez que todos estavam juntos, e solicitaram que o interrogando comparecesse naquela mesma noite à sede do Banco Schahin”, registrou a Polícia Federal, em depoimento de Bumlai no dia 14, em Curitiba.

Tordin, citado por Bumlai, era o presidente do Banco Schahin, que fez delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato e confessou a falsa operação de empréstimo ao PT. “Ambos (Peralta e Favieri) esclareceram que precisavam de recursos, por estavam realizando, à época, serviços para campanhas e estavam entrando em segundo turno”, esclareceu Bumlai à PF. “Acredita que o valor se destinava a quitar dívidas de campanha em Campinas.”

Investigados. Os nomes dos donos da NDEC e suas relações com João Santana estão desde 2006 no radar do Ministério Público Federal. A empresa pagou R$ 600 mil para a produtora Santana & Associados nas eleições municipais de 2004 – segundo revelou, em 2008, o Estadão. Foram dois repasses de R$ 300 mil por serviços prestados na campanha de Dr Hélio. Os pagamentos ocorreram entre setembro e outubro de 2004 – quando o publicitário ainda não havia assumido as campanhas presidenciais petistas, cargo que era ocupado por Duda Mendonça.

Naquele ano, Santana fez duas outras campanhas no pacote pago pelo PT. A do candidato a prefeito de Ribeirão Preto (SP) Gilberto Magionni e a do candidato a prefeito de Campo Grande (MS) Vander Loubet – ambos petistas.

A operação financeira, considerada “movimentação suspeita” pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), incluía ainda pagamento de R$ 950 mil pelo partido para Santana. No comunicado feito ao MPF, o órgão relatou que a empresa de Peralta e Favieri – a NDEC – movimentou R$ 4,5 milhões em 2004, valor “incompatível com sua capacidade econômico-financeira declarada em cadastro”. Do montante movimentado, 77% foram sacados na boca do caixa durante a eleição.

Petrobrás. Em depoimento nesta segunda-feira, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares confirmou à PF que os R$ 12 milhões teriam relação com campanha em Campinas (SP), em 2004.

Se comprovado o caminho do dinheiro até Santana, a Lava Jato vai apontar que dinheiro desviado da Petrobrás abasteceu campanhas eleitorais municipais, em 2004, via PT. Os procuradores da força-tarefa têm imputado crime de lavagem de dinheiro na ocultação de propina em repasses a partidos, campanhas e prestadores de serviços.