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Quem andou na semana passada pelas margens do lago Itaipu, no Paraná, viu surgir do nada uma cidade formada por barracas de camping, com quase 20 mil habitantes, a maioria com idade entre dez e 15 anos. Não era uma versão nova – e adolescente – do Festival de Woodstock, nem uma festa rave. Essa multidão se reuniu em torno do III Campori Sul-Americano, um encontro de jovens que acontece a cada dez anos – e que, nesta edição, se estende até o domingo 16. Na cidadela montada pela organização, a língua oficial é o português, mas fala-se também espanhol. Todos os acampados são membros do Clube de Desbravadores, entidade presente em 150 países e que originalmente nasceu na Igreja Adventista, em 1950. Hoje congrega meninos e meninas de diversas religiões cristãs.

Há no mundo dois milhões de desbravadores, como esses jovens são chamados. Deles, 165 mil são latino-americanos, a maioria do Brasil (135 mil). Como era de esperar, no encontro que acontece mais especificamente na cidade de Santa Helena (PR) (oito milhões de habitantes), os brasileiros estão dominando. Junto com os representantes dos vizinhos sul-americanos e convidados da Rússia e do Japão, entre outros países, eles se dedicam a atividades que vão de cursos profissiona-
lizantes a palestras sobre os males do tabagismo e do álcool. Também se debate ecologia e cidadania. “A programação está baseada em três pilares: crescimento físico, mental e espiritual. Quem está em fase de crescimento precisa de apoio firme nesses três eixos”, explica Erton Köhler, coordenador-geral do III Campori.

Para cuidar da moçada foram convocados 800 voluntários, quase todos ex-desbravadores. Ou melhor, pessoas que passaram dos 15 anos, idade máxima da turma. Diariamente, os jovens acordam às 6h30, tomam café e fazem uma leitura coletiva da Bíblia. É o momento de “reflexão espiritual”. Depois, começa a programação, com 270 opções de atividades, nas quais a galera se reveza. Entre as alternativas há, inclusive, a exploração de uma caverna artificial onde se pode estudar formações rochosas. O que não falta é criatividade. Até mesmo para montar o acampamento. Algumas barracas foram erguidas em estruturas elevadas. Outra característica curiosa do Campori é a mistura de jovens de diferentes classes sociais. “Aqui todo mundo é igual. Dorme em barraca, senta na grama e usa os mesmos banheiros”, conta Köhler. Esse convívio tem sido o destaque do evento, na opinião do estudante Jó de Oliveira, 12 anos. O garoto mora na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, e foi até Santa Helena num ônibus alugado pelo clube Céu e Mar, ao qual pertence. “Fiquei amigo de um monte de argentinos. Não sei espanhol, mas falo devagar e eles me entendem. E vice-versa”, arremata.