Ao mesmo tempo que buscam a origem do dinheiro que petistas usariam para comprar um fajuto dossiê que envolveria políticos tucanos com a máfia dos sanguessugas, a Polícia Federal e o Ministério Público investigam um outro lote de documentos que poderão levar à efetiva participação do ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB) no esquema de superfaturamento na compra de ambulâncias. São cheques e depósitos bancários que comprometem o empresário paulista Abel Pereira, apontado pelos empresários Darci e Luiz Antônio Vedoin – os chefes dos sanguessugas – como o operador do ex-ministro. Ainda essa semana, Abel será chamado para depor e terá que explicar as suas relações com os Vedoin. Durante o depoimento, serão colocadas diante do empresário as cópias de 15 cheques que totalizam R$ 601,2 mil. Esses cheques, teriam sido entregues a Abel, como propina pela venda das ambulâncias superfaturadas. As respostas dadas por Abel, serão confrontadas futuramente com os dados obtidos a partir da quebra do sigilo bancário do empresário, solicitada à Justiça Federal pelo Ministério Público e pela PF. Além disso, a polícia também está trabalhando no rastreamento desses cheques. Dessa forma, mesmo que eles não tenham passado pelas contas do empresário, se descobrirá o destino que tiveram e os favorecidos terão que prestar esclarecimentos.

Além dos cheques, a PF e o procurador Mário Lúcio Avelar dispõem das cópias de comprovantes de depósitos bancários feitos pelos Vedoin em contas que lhe teriam sido indicadas por Abel. Os titulares dessas contas também terão que explicar a razão do recebimento do dinheiro. Os documentos que os Vedoin entregaram à Justiça e a participação de Abel no esquema dos sanguessugas foram revelados por ISTOÉ em 15 de setembro.

Na Polícia Federal, a documentação e os depoimentos prestados pelos Vedoin somam-se às gravações telefônicas que vinham sendo efetuadas na investigação dos sanguessugas. Há o registro de diversos telefonemas entre Abel e Luiz Antônio. Segundo o depoimento de Vedoin, Abel agia em nome do ministro Barjas Negri,
ex-secretário executivo do Ministério na gestão de José Serra e seu sucessor a
partir de março de 2002. Hoje, Negri é prefeito de Piracicaba, no interior de São Paulo, e só se livrou do pedido de quebra de sigilo bancário por ostentar foro especial em razão do cargo.

Quanto mais os investigadores remexem na máfia dos sanguessugas, mais descobrem ligações com o PSDB. Em 2001, segundo documentos disponibilizados pelos Vedoin, toda a bancada do partido estava unida em torno da liberação de dinheiro para a compra de ambulâncias. Quem indicava os municípios a serem contemplados pelo Ministério da Saúde era o deputado Lino Rossi, do PSDB. Entre os parlamentares que autorizavam Lino a operar o dinheiro das emendas com a máfia estão os ex-deputados Ricarte Freitas e Pedro Henry, além do senador Antero Paes de Barros. Todos estavam no PSDB. Só Antero continua no partido.