chamada.jpg

selo.jpg
O resultado das eleições no Chile, com a der­rota do candidato da presidente Michelle Bachelet, foi o suficiente para acender um sinal de alerta na campanha da ministra Dilma Rousseff. Como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a chilena está no último ano de mandato com uma popularidade superior a 80% e empenhou-se na campanha do sucessor. Mas, apesar da dedicação, não conseguiu a necessária transferência de prestígio. No QG ainda informal de Dilma a analogia foi imediata e o medo do chamado “fator Chile” provocou rápidas reações que desagradaram ao presidente Lula e o obrigou a terminar a semana dando um puxão de orelha nos ministros. Setores do PT, capitaneados pelo ex-ministro José Dirceu, aproveitaram o desespero instalado pelos votos dos chilenos e conseguiram impor, ainda que por pouco espaço de tempo, uma rota mais agressiva na campanha de Dilma e o medo do fator Chile levou a ministra a colocar em marcha no Brasil a campanha do medo, recorrendo a práticas que no passado alvejavam o PT. “Quando sem nenhum fundamento espalhavam que o Lula iria confiscar as cadernetas de poupança, os petistas diziam que se tratava de terrorismo eleitoral. Agora, usam a mesma estratégia”, disse o líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP), em uma reunião com a cúpula tucana.

Na terça-feira 19, durante inauguração de uma barragem, em Minas Gerais, Dilma, ao lado de Lula, disse que o PSDB acabará com o PAC, caso ganhe a eleição. Não foi a primeira vez que a ministra usou esse argumento, mas nunca o tinha feito de forma tão enfática e ao lado do presidente no alto de um palanque. “Vira e mexe eles querem acabar com alguns programas do governo Lula. O objetivo, agora, é acabar com obras como essa, que hoje nós estamos aqui inaugurando. E isso nós não vamos deixar”, discursou a ministra. Lula ficou surpreso com o tom e com o conteúdo da mensagem. À noite, em conversa com assessores, revelou seu descontentamento. Disse que estava preocupado e que gostaria de encontrar uma fórmula para conhecer com antecedência os discursos de Dilma, sem que isso magoasse a ministra.

As declarações da ministra desencadearam uma troca de ofensas entre tucanos e petistas, baixando o nível do debate eleitoral. Em dura resposta, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), chamou Dilma de mentirosa. “Mentir, omitir, esconder-se, dissimular e transferir responsabilidades são a base do discurso de Dilma”, disse em nota. O presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, contra-atacou: “O Sérgio Guerra falou com todas a letras que ia acabar com o PAC. Eles falam as coisas, descobrem que falaram bobagem e ficam dizendo que não é bem assim.” O governador paulista, José Serra, pré-candidato tucano à sucessão de Lula, preferiu não entrar na polêmica. “Não vou fazer baixaria eleitoral”, afirmou Serra.

O momento beligerante foi o lado mais visível do movimento feito pelos petistas que defendem uma campanha mais cáustica por parte de Dilma. Nos bastidores, eles aproveitaram o medo do fator Chile para mirar baterias contra o marqueteiro João Santana. Escalado por Lula para comandar a comunicação da campanha de Dilma, Santana foi um dos idealizadores do “Lulinha Paz e Amor” que levou o ex-metalúrgico à Presidência da República em 2002. Ele defende um debate de alto nível e é contra a ideia de uma campanha agressiva. Suas relações com Dilma, no entanto, já foram melhores. O marqueteiro e a ministra não falam a mesma língua desde o fim de 2009. Dilma teria ficado contrariada com uma intervenção de Santana, segundo ela, “acima do tom”, depois que ela se referiu a uma repórter como “minha filha”. Santana aconselhou-a a evitar termos que denotassem agressividade. Dilma não gostou. No rastro do episódio, aconselhada por José Dirceu, a ministra procurou o publicitário Duda Mendonça e fez um desabafo. “Cansei de tentar ser outra pessoa. Vou ser quem eu sou”, disse ela. Desde então, Dilma tem sido mais coerente com o seu perfil. A despeito das pressões de setores do PT e das divergências com a ministra, Santana permanece à frente do marketing da campanha. “Não há rompimento”, disse à ISTOÉ o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP).

Na quinta-feira 21, durante reunião ministerial, Lula tornou pública sua contrariedade com os rumos que a campanha tomou na última semana. “Não quero que entrem no jogo sujo do debate eleitoral”, disse. Afinado com a orientação de Lula, o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais reforçou. “Temos que fazer campanha de alto nível. Nossa campanha não é de guerra, mas de forte defesa do governo, das ações do governo. O nosso bloco é o bloco da paz. A Dilma é da paz, a guerra está lá no PSDB.” Para evitar uma nova crise, como a deflagrada a partir da edição do decreto do programa de direitos humanos, Lula também ordenou que Dilma adiasse o anúncio do Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa. O documento é torpedeado por evangélicos e pela Igreja Católica. Até ser desautorizada a tocar o projeto adiante, Dilma estava animada com o plano, que prevê a legalização fundiária dos imóveis ocupados por terreiros de umbanda e candomblé e até o tombamento de casas de culto.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Não foram as únicas intervenções do presidente para impedir possíveis atritos desnecessários em ano eleitoral. Além da orientação para suavizar o discurso, Lula, preocupado em turbinar a campanha da sua candidata, decidiu acelerar o ritmo das inaugurações ao lado de Dilma até abril, quando a chefe da Casa Civil terá de deixar o governo por força da lei eleitoral. Estão previstos mais de 60 eventos conjuntos. O objetivo é reforçar no imaginário popular o sentimento de que Dilma não apenas foi peça fundamental da atual gestão como irá aprimorar os programas sociais e de infraestrutura implementados por Lula. Outra meta é chegar até 35% nas pesquisas e emparelhar com José Serra, em três meses. “Vamos mesmo intensificar a inauguração de obras pelo País. Qual é o problema? É a primeira vez que eu vejo a oposição tentar proibir o governo de fazer isso”, disse Vaccarezza.

img2.jpg

 

Um ministério para o PAC

img1.jpg

Na última semana, horas antes de apertar o botão para pôr em funcionamento uma usina (foto), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início a um projeto com o objetivo de fortalecer ainda mais a candidatura de Dilma Rousseff.

Ele encomendou um parecer jurídico para saber se o governo terá respaldo para criar o Ministério Extraordinário do PAC. A disposição do presidente é tanta que ele até admite fundir órgãos para que a criação da pasta do PAC seja possível. Dado o sinal verde, o ministério extraordinário, a partir da desincompatibilização de Dilma, pode ser comandado por Miriam Belchior, hoje secretária-executiva do PAC. Todo o ativo gerado pelo novo ministério seria creditado na conta de Dilma, tida como a “mãe” do principal programa do governo. Na reunião ministerial da quinta-feira 21, quando a ministra apresentou as linhas gerais do PAC 2, foi só um aperitivo do que está por vir.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias