O correspondente de ISTOÉ nos Estados Unidos, Osmar Freitas Jr., é um jornalista experiente. Chegou em Nova York pela primeira vez em 1980 e tem um respeitável currículo profissional. Entre outras missões jornalísticas, cobriu as Copas do Mundo de futebol de 94, nos Estados Unidos, e 98, na França. Esteve na invasão americana no Haiti, que repôs Jean-Bertrand Aristide no poder, e entrevistou políticos e celebridades no mundo todo. Ele sempre quis entrevistar Woody Allen, com quem tem em comum um invejável senso de humor e a proximidade com a cultura judaica – Osmar é casado há mais de 20 anos com a professora nova-iorquina Dale Woogan Freitas, que é judia.

Um dos casos relatados por Osmar envolve Dale em visita ao Brasil. No rádio do carro, Caetano Veloso cantava É hoje, a composição de Didi e Maestrinho, cuja letra diz…diga espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz que eu, e na parte que fala … É hoje o dia da alegria … em vez de é hoje o dia, Dale entendeu êêêôôôô judia e perguntou indignada a Osmar se Caetano e os brasileiros eram anti-semitas. Osmar conta esse caso com humor woodyalliano.

Apesar de bem-humorado, o cineasta americano não gosta da imprensa e foram raras suas conversas com jornalistas. Essa atitude começou a mudar a partir de 1992, depois do imbróglio Mia Farrow/Soon-Yi e das acusações de que ele havia molestado sexualmente sua filha adotiva Dylan. Foi obrigado a se defender publicamente e, desde então, algumas entrevistas focadas em seu trabalho apareceram, o que demonstrou que a pauta perseguida pelo nosso jornalista não era impossível.

A oportunidade surgiu quando um ex-colega de Osmar em um curso de documentários para tevê na New School Of Art deu um jantar ao cineasta e avisou o correspondente de ISTOÉ. Como era inimaginável montar uma armadilha a Woody, os dois abriram o jogo: um jornalista brasileiro estaria presente e gostaria de fazer perguntas que publicaria em seguida. O cineasta concordou, contanto que não se usasse gravador.

Não se sabe se isso foi mais uma das tiradas humorísticas do cineasta. Mas o
que importa é que Osmar levou a sério e depois de quatro horas de anotações saiu com os dedos em frangalhos. O resultado do sacrifício está nas páginas vermelhas desta edição.