Tom Zé, o baiano mais tropicalista
de todos os tropicalistas baianos, reaparece com o petardo Estudando
o pagode – na opereta segregamulher
e amor
(Trama), opereta em três atos
Mulheres de apenas, Latifundiários
do prazer
e Amor ampliado para o
teatro e para o país
– que coroa quatro anos de estudos e pesquisas realizados
pelo compositor e por Neusa, sua mulher, a partir da idéia da inexistência de um período da humanidade em que a sociedade fosse matriarcal. O que vigorou
antes da dominação exercida pelo homem foi uma sociedade sexualmente igualitária. Irreverente até a medula, Tom Zé alega que “sou mulher, sempre
fui mulher, fui o fraco lá de casa, o nordestino em São Paulo, aquele que
tem menos opinião”. E como homem denuncia a mendicância a que seu
sexo foi reduzido diante do feminismo.

Para não cometer besteira, como diz, o baiano contou com dois júris para julgar o que ia criando. Neusa apontava o que lhe era digno ou não. Pedro José, 17 anos, e sua amiga Fernanda Del’Uomo, 16, serviram de censores em termos estéticos. “Sobrou material para mais dois discos”, desabafa. Para driblar a censura estética dos estúdios tradicionais, “que obrigam o artista a gravar apenas o que as máquinas captam”, Tom Zé contou com Jair de Oliveira, Paulo Lepetit e outros bambas para apreender os sons gerados por ele e sua banda fiel, acrescida pelas vozes do mesmo Jairzinho e de Suzana Salles, e de convidados como Mônica Fuchs, Luciana Mello, Zélia Duncan, Edson Cordeiro e Luciana Paes de Barros – esta responsável por sons de jegue e orgasmo incontido. Incluindo citações que vão de Tom Jobim e Adoniran Barbosa a J.S. Bach, Tom Zé sente que o pagode está hoje como o samba em 1976, quando lançou Estudando o samba. Denegrido, subestimado. E o que criou, o pagodueto, ao qual incita os ouvintes a se juntar, é Tom Zé em sua melhor forma. Que ninguém se assuste ao ouvir músicas como Estúpido rapaz, Beatles à granel, Elaeu, Quero pensar (a mulher de Bath) e Canção de Nora (casa de bonecas) nas rádios. A montanha veio a Tom Zé.