Uma brincadeira comum entre americanos diz que, se a situação nos Estados Unidos ficar intolerável, o melhor a fazer é procurar o aeroporto mais próximo e ir morar no Canadá. Na terça-feira 1º, a chamada Superterça das prévias presidenciais, o republicano Donald Trump conquistou uma vitória avassaladora nas urnas de seis estados. Resultado: a velha anedota saiu do campo da comédia. Em inglês, a expressão “mudar para o Canadá” alcançou o seu valor mais alto em 10 anos de buscas no Google. 

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“Riscos nunca foram tão altos e discurso do outro lado nunca
esteve tão baixo” – Hillary, sobre Trump

 
 
Em poucas horas, o índice do volume de pesquisa (a métrica usada pela empresa) pulou de 2 para 98. Tudo isso porque Trump, o polêmico candidato cujo discurso mistura populismo e radicalismo, arrebata cada vez mais apoiadores e caminha a passos largos para ser o republicano nomeado à corrida para a Casa Branca. Se antes o crescimento era visto como fogo de palha, hoje a ascensão parece ameaçar Hillary Clinton, favorita entre os democratas e vencedora em sete dos 11 estados da Superterça. 
 
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O confronto parece tão certo que, antes mesmo da apuração, os dois já começavam a falar como campeões, esnobando os demais postulantes das primárias e atacando-se mutuamente. “Está claro que os riscos nunca foram tão altos e que o discurso do outro lado nunca esteve tão baixo”, provocou Hillary. “Ela já esteve lá por tanto tempo e não consertou nada”, disse Trump, referindo-se ao fato de Hillary ser ex-secretária de Estado. “Vai ser uma corrida fácil.”
 
A Superterça é importante porque é o dia em que são definidos mais de 20% dos delegados dos partidos Democrata e Republicano, aqueles que decidirão quem serão os concorrentes à eleição presidencial, que acontecerá em novembro. Nos Estados Unidos, o voto popular confere delegados para cada um dos aspirantes. No final, quem conseguir mais representantes ganhará a corrida interna da legenda e lutará para suceder Barack Obama na Casa Branca. Na terça, Trump conquistou 237 delegados. 
 
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“Ela esteve lá por tanto tempo e não consertou nada. Vai ser uma
corrida fácil” – Trump, sobre Hillary 
Agora, está quase 100 votos à frente do segundo colocado, Ted Cruz. Depois de ter passado os últimos dias atacando diretamente o líder, Marco Rubio segue numa distante terceira posição, com menos da metade dos delegados de seus rivais. Se no início da campanha Trump era motivo de chacota por suas posições políticas heterodoxas, hoje é uma ameaça real dentro da própria sigla. O ex-governador do Texas, Rick Perry, e a governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, usaram palavras como “câncer” e “virulento” para se referir ao colega. 
 
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“Há muitos republicanos que não toleram Trump”, afirma Alexander Keyssar, professor de história e políticas públicas da Universidade de Harvard. “Mesmo assim, ele está se direcionando para a nomeação”. Se hoje Hillary parece satisfeita com o próprio rendimento (ela está na frente de Bernie Sanders por 577 delegados contra 394), o cenário pós-prévias é mais nebuloso. Por um lado, a ascensão de Trump pode tornar a vitória democrata mais fácil, pois as eleições nos Estados Unidos são historicamente decididas pelos eleitores moderados. É o que as pesquisas demonstram, colocando tanto Hillary quanto Sanders à frente do republicano no confronto direto, em novembro. 
 
Por outro lado, Trump está surpreendendo justamente nos estados considerados menos radicais, e entre eleitores que não se inserem nos nichos mais conservadores. Boa parte deles quer candidatos de fora do mundo político. “As pesquisas mostram que Hillary pode vencer Trump”, diz Arnold Haiman, da Universidade George Washington. “Mas a estratégia dele será atrair eleitores que nunca antes se preocuparam em votar (nos Estados Unidos, o voto é facultativo).” Se a disputa parece estar praticamente resolvida nas primárias, nunca esteve tão aberta depois delas.

Créditos das fotos nesta matéria: Justin Sullivan, Benjamin Krain – Getty Images/AFP


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