A volta às aulas foi brindada com uma nova pesquisa sobre aprendizado. Estudiosos da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, cruzaram dados de 111 artigos assinados por pedagogos e neurologistas para explicar cientificamente porque só há um meio de um estudante reter a matéria na memória: intercalar as lições com períodos de descanso. A pausa para absorver uma informação nova é fundamental em escala microcelular. Pequenas estruturas que servem como antenas de comunicação entre os neurônios precisam de tempo para ajustar sua sincronização. 

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Pausas: para não estafar os neurônios garantem mais rendimento

 
As células nervosas podem levar até 24 horas para decodificar a mensagem recebida. “Os intervalos nos exercícios estão dinamicamente relacionados aos mecanismos celulares e moleculares associados à formação de memória”, diz o coordenador da equipe texana, John Byrne, professor de neurobiologia. Portanto, a velha dica é cientitificamente preciosa: não estude de véspera. Pedagogos da Universidade de Menphis (EUA) constataram que, sete dias após a aula, apenas 8% dos ensinamentos permanecem retidos nas mentes dos alunos. Isso levou seus colegas, na Califórnia, a procurarem, em 2006, o intervalo ideal entre uma lição e outra. 
 
Exercícios verbais com duração de até três horas foram comparados a treinos de dois dias. Duas horas após o fim de cada um dos treinamentos, ambos foram testados e o de maior sucesso foi o mais curto. Outro estudo foi publicado, dessa vez por neurocientistas de Kyoto, no Japão, com a mesma conclusão. O maior êxito desse método ocorreu em trabalhos sobre memorização de listas, educação formal em línguas, ciências e matemática e educação na primeira infância. “As reativações de memória em escalas de uma hora ou mais tiveram resultados melhores do que as com intervalos de um minuto”, diz Byrne. 
 
“Reativações da memória em escalas de intervalos
de uma hora ou mais tiveram mais resultados”
John Byrne, coordenador da pesquisa na Unversidade do Texas
 
A partir de dois estudos feitos com cérebros de ratos, cientistas notaram que, a estrutura interna dos neurônios começa a se modificar e a abrir o caminho para a próxima transmissão. O processo foi chamado de “prime” (em português seria “deixar entrar”), e leva em torno de uma hora. Só então o neurônio estaria pronto para receber o segundo estímulo nervoso. Isso explicaria porque repetir à exaustão fórmulas, minutos antes de uma prova, não garante que o aluno não terá “um branco”. Como os neurônios não estabeleceram uma conexão forte, são grandes as chances de esquecer as fórmulas na hora da prova. 
 
O neurônio precisa de 12h a 24h para transformá-la em memória de longo prazo, ou seja, conhecimento de fato. “Chega a ser bonito ver, em nível molecular, a comprovação do que as ciências sociais aconselham: deve-se respeitar o tempo de aprendizado das crianças e não abarrotá-las de conteúdo, como vemos no Brasil”, discorre Elvira Souza Lima, pesquisadora de neurociência e doutora em ciências da educação pela Sorbonne, em Paris. 
 
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