No fundo, o anti-semitismo nada mais é do que a inveja de certas pessoas pelo sucesso financeiro e profissional dos judeus, assim como o marxismo não passa da cobiça que os barbudos alimentam de todas as classes, menos da trabalhadora. Por outro lado, o fato de o número de bilionários haver quintuplicado nos Estados Unidos entre 1982 e 1996 é um sinal inequívoco de avareza. Ainda sobre hábitos americanos, o filósofo pessimista alemão Arthur Schopenhauer parecia estar prevendo o escândalo Bill Clinton-Monica Lewinsky quando, ao escrever sobre a luxúria, afirmou que às vezes ela “confunde, por algum tempo, até as mentes mais grandiosas” – o que não é bem o caso.

Pecados, pecados, pecados. A Coleção sete pecados capitais, da qual acabam
de sair Luxúria (Arx, 208 págs., R$ 19,90), de Simon Blackburn, e Avareza (Arx, 144 págs., R$ 19,90), de Phyllis A. Tickle, traz um painel de reflexões sobre o assunto – suas origens, a evolução do conceito e a maneira como as várias modalidades de abominação se insinuam no dia-a-dia dos míseros mortais. Os livretos vieram se juntar aos já lançados Inveja, de Joseph Epstein, e Gula, de Francine Prose. São textos originados de palestras encomendadas pela New York Public Library e a Oxford University Press a intelectuais de diversas áreas, apresentando discussões fundamentadas e não raro bem-humoradas sobre o tema. Blackburn, por exemplo, assegura que teologia se refere a “pessoas com idéias que tentam definir
qual é a vontade divina”. Em seu trabalho sugere que “eletrocute-se o divino e observem-se as idéias”.

A proposta de discutir a sério os sete pecados não é nova. Nos anos 1950, o escritor Ian Fleming, criador de James Bond, propôs o tema ao London Sunday Times, que decidiu realizá-la – a Evelyn Waugh, por exemplo, coube a preguiça e a W. H. Auden, a ira. No prefácio, Fleming chegou a insinuar uma modernização geral, sugerindo como pecados contemporâneos amor ao dinheiro, crueldade, esnobismo, hipocrisia, falsa moral, covardia moral e maldade. Propôs também uma lista de falsas virtudes na qual incluiu a frugalidade, a caridade (a outra face do egoísmo), a sociabilidade, a deferência (quando beira a bajulação), a ordem (em excesso), a limpeza (quando chega a ser patológica), a castidade (se proveniente de mera frigidez). No entanto, as virtudes nunca deram audiência ou inspiraram tantas obras quando a lista das infrações, estas sim uma fonte inesgotável de enredos.

Lição de baião, gravada por Baden Powell em 1961, ganha uma versão com
toques de drum’n’bossa, enquanto a marchinha de Carnaval Lig-lig-lig-lé, dos
bailes de 1937, mergulha numa atmosfera felliniana. Outra preciosidade é Formiga bossa nova, do repertório de Amália Rodrigues, que conta com a luxuosa guitarra portuguesa de António Chainho. Entre as composições mais recentes aparecem
Oito anos, que Paula Toller fez para o filho Gabriel e gravou no seu disco solo de 1998, e Saiba, de Arnaldo Antunes, segundo Adriana, uma canção para ninar
adultos. Ponto alto do CD, Ser de sagitário, presente de Péricles Cavalcanti para a filha Nina, resume a busca do disco por aquele raro momento em que artista e criança são um só ser.