Todo mundo sabe que por trás dos espetaculares vôos dos lutadores de artes marciais existe toda uma tecnologia de cabos, apagados na pós-produção. Mesmo conhecendo o truque, não há quem recuse se maravilhar – e não se sinta como uma criança no circo – diante da façanha de personagens que de super-heróis não têm nada. Antes ridicularizadas nas produções B de kung fu, de um tempo para cá tais cenas viraram o grande momento de filmes de ação como Matrix e As panteras. Agora ganharam estatuto de “arte nobre”. O responsável pelo banho de ouro é o chinês Zhang Yimou, que resolveu explorar o filão depois do sucesso de O tigre e o dragão, de Ang Lee, e de Kill Bill, de Quentin Tarantino. O resultado de sua investida no gênero conhecido como wuxia, especialidade dos estúdios de Hong Kong, pode ser conhecido em dose dupla nos belíssimos épicos Herói (Ying xiong, China/Hong Kong, 2002 ), em cartaz nacional, e O clã das adagas voadoras (Shi mian mai fu, China/Hong Kong, 2004), previsto para o dia 8 de abril.

Passado no século III a.C., Herói – o mais caro filme chinês já feito – conta a história do lutador Sem Nome (Jet Li), que se apresenta ao rei de Qin para ser recompensado por ter matado os rebeldes Céu (Donnie Yen), Espada Quebrada (Tony Leung) e Nuvem (Maggie Cheung), contrários à unificação chinesa. Num procedimento engenhoso, Yimou monta o filme como o avanço de peças do xadrez – a cada versão que Sem Nome conta de seus duelos para eliminar os adversários ele supera uma etapa até estar a dez passos do soberano. Com um fantástico uso da cor, os blocos autônomos receberam tonalidades dominantes, sempre coroados por maravilhosas exibições de acrobacia. A sequência vermelha, por exemplo, tem como clímax a luta entre Nuvem e Lua (Zhang Ziyi), passada num bosque de carvalho, cujas folhas douradas caem ininterruptamente; a sequência azul tem seu ápice na disputa entre Espada Quebrada e Sem Nome voando sobre um lago paradisíaco.

Para que parecesse que os dois se apoiavam na fina camada de água após executarem parafusos no ar, Yimou só filmava das 10h da manhã ao meio-dia, quando o lago tinha aparência de espelho. Cenas magistrais também não faltam em O clã das adagas voadoras, sobre a tentativa de dois militares de desbaratar uma organização rebelde durante a Dinastia Tang, no ano 859. Mas um deles, Jin (Takeshi Kaneshiro), acaba apaixonando-se pela principal suspeita, a dançarina cega Mei (Zhang Ziyi). Para se manter fiel ao gênero, Yimou filmou uma sequência de luta numa floresta de bambus. Ver o balé aéreo de lutadores é a prova de que efeitos não existem apenas para tiros e explosões.


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