Foram ruidosas as manifestações de brasileiros durante a exibição do programa partidário do PT na terça-feira 23. É difícil dizer se os decibéis aumentaram por conta de um número crescente de panelas sendo torturadas, em função de maior força aplicada por gente ainda mais descontente com os governantes eleitos pela sigla ou pelo simples fato de que panela mais vazia produz mesmo mais barulho. Continuarão, no entanto, sendo apenas ruídos metálicos inconsequentes até que saiam das janelas e sacadas dos prédios e gerem imagens impactantes, daquelas que fazem o dia de marqueteiros como João Santana.

Assim como uma eleição, um processo de impeachment envolve marketing político. Menos estruturado, mais espontâneo, mas baseado em uma mensagem forte que seduza milhões. O descontentamento da maioria, retratado claramente nas pesquisas que medem a aprovação da presidente Dilma Rousseff, não gera mais do que notas em sites e jornais. Outras condições para que esse sentimento se transforme em ação também já estão postas. Nada nesse sentido é tão poderoso quanto as propriedades que ficaram conhecidas como o triplex e o sítio de Lula ou o incrível enriquecimento do marqueteiro petista, que multiplicou sua (digamos) poupança quase 60 vezes em poucos anos. Corrupção sem materialidade (dinheiro em paraísos fiscais) não causa tanta comoção quanto falar em patrimônio. Fernando Collor começou a descer a rampa do Planalto quando o Brasil conheceu os jardins da Casa da Dinda. Antes disso, era apenas um presidente impopular.

É verdade que Lula não está na cadeira e que o mandato pertence a Dilma. A questão que se discute aqui não é a jurídica – nesse ponto, a chapa esquentou para a presidente com a prisão de Santana e as evidências que maculam sua eleição. Quando se fala de imagem, Dilma é Lula e vice-versa. Quando um se lambuza, o outro também sai sujo. E cada petista apanhado com a boca na botija acrescenta uma mancha na reputação de ambos. Assim, a força partidária – um dos trunfos de sua estratégia de defesa – acaba anulada pela sensação de promiscuidade na legenda. Collor viveu exatamente o inverso. Não tinha quem o defendesse, mas também não sofreu com malfeitos de seus correligionários. Seu governo personalista acabou com um escândalo de proporções bem menores.

O problema nas trincheiras dos defensores do impeachment de Dilma, por enquanto, é encontrar uma marca que se coloque acima de personagens e partidos, como as faixas verde-amarelas no rosto dos cara-pintadas em 1992. Sem essa marca, também surgida espontaneamente, o movimento fica fragmentado e enfraquece por permitir a exposição de gente com biografia nem sempre recomendável. Não há produto que se venda tendo como garotos propaganda Cunhas, Bolsonaros, Paulinhos e outros do mesmo time. A marca da campanha pró-impeachment tem de surgir no meio do povo, nos rostos das ruas. A trilha sonora das panelas já está pronta. 


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