Receber convite para interpretar Frank Sinatra em Nova York é algo para poucos artistas deste mundo. Bibi Ferreira é uma das estrelas planetárias a ser chamada para o feito. E, aos 94 anos de idade, ela disse sim. A atriz e cantora marcou para os próximos meses mais de 130 shows dentro e fora do Brasil, incluindo a sua célebre homenagem a Sinatra. Trata-se da comemoração de 75 anos de uma das carreiras mais luminosas dos palcos brasileiros. E a filha de Procópio Ferreira, coerente com sua trajetória, privilegiou as apresentações nacionais, que passam por São Paulo Rio de Janeiro e depois seguem para capitais do Norte e do Nordeste, antes da turnê americana.

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PIQUE TOTAL
Aos 94 anos, Bibi Ferreira encara uma agenda de shows e
lançamentos que incluem uma fotobiografia e um box com seis CDs

Cinco desses shows são inéditos e baseados em quatro momentos-chave da vida artística de Bibi Ferreira: suas homenagens a Frank Sinatra, Amália Rodrigues, Carlos Gardel e Edith Piaf. Por isso, foram batizados em conjunto de “4XBIBI”. O fôlego das comemorações fazem jus ao pique da cantora que não dá sinais de cansaço. Ainda este ano será lançada uma fotobiografia com 500 imagens de acervo pessoal, um box com seis CDs, um portal na internet e um novo espetáculo, “Bibi – Novas Histórias e Novas Canções”, baseado em vivências como outras divas e amigas, como Maísa, Clara Nunes e Elizeth Cardoso.

Em “4XBIBI”, a atriz e seu empresário, Nilson Raman, dividem o palco para narrar curiosidades da carreira dela, compartilhadas por ambos nos últimos 25 anos. Raman conta, por exemplo, que um dos maiores sucessos da cantora, sua interpretação da francesa Edith Piaf, quase não saiu do papel. “Ela cancelou o projeto. Tinha decidido que não daria certo porque o repertório era triste. Foi uma amiga que a convenceu, mostrando músicas da Piaf que ela não conhecia .”

Um dos segredos da carreira e vida longevas é a paixão da cantora pela ribalta. “Em nenhum outro lugar você consegue sensibilizar uma pessoa como numa plateia de teatro, onde tudo é feito ao vivo, na hora, na ‘vera’”, escreveu a artista, por e-mail, à ISTOÉ.

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DIVA DAS DIVAS
Bibi Ferreira (acima) como Edith Piaf, espetáculo que ela quase engavetou com medo
da tristeza das letras da cantora francesa. Abaixo, a atriz como Joana, no espetáculo
“Gota D’água” de Chico Buarque e Paulo Pontes, um de seus
papéis mais premiados sobre os palcos

 

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Bibi Ferreira atuaou com os maiores nomes do teatro brasileiro desde a primeira metade do século passado até agora. Dirigiu uma espetáculos, musicais, foi pioneira na televisão e encenou alguns dos papeis mais contundentes da resistência política contra a ditadura militar no Brasil, como a Joana de “A Gota D’ Água”, de Chico Buarque e Paulo Pontes, que lhe valeu os mais importantes prêmios teatrais da época. “O artista tem uma função social muito grande e importante, e o seu trabalho, o seu talento, é o grande retorno que podemos dar à sociedade”, diz a atriz.  “O teatro sempre foi uma grande forma de expressão dos povos, de todas as épocas. Nenhuma outra arte chega mais perto das pessoas.”

A maratona de comemorações passa na sexta-feira 4 pelo teatro Tom Brasil, em São Paulo. Segue para o Norte e Nordeste do País para, depois, chegar a Las Vegas e Nova York. No meio dessa corrida ainda está programada uma parada estratégica no Rio de Janeiro, no dia 1º de junho, seu aniversário, para um show no Teatro Serrador. Ali naquele mesmo palco, Bibi começou sua carreira, em 1941. A comédia “La Locandiera” é considerada oficialmente sua primeira vez no teatro. Muito jovem, atuou na peça “Manhã de Sol ainda muito jovem, no colo da madrinha Abigail Maia, esposa do autor e padrinho Oduvaldo Viana, um dos maiores dramaturgos de seu tempo. Tinha mesmo que ir longe.

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Fotos: Mastrangelo Reino e João Cordeiro/Folhapress, ILUSTRADA