Se fosse um filme de Steven Spielberg, o arqueólogo búlgaro Georgi Kitov teria participação garantida. E o cenário seria aquilo que o mundo científico está chamando de ?Novo Éden da Arqueologia? ? o Leste Europeu. É de lá que começam a sair surpreendentes tesouros, que a mesma comunidade de pesquisadores já batizou de ?efeitos especiais arqueológicos?. Kitov anunciou, por exemplo, a descoberta de objetos do século V a.C., que pertenceram a Seutus III, rei da Trácia ? e entre as peças nada se iguala a uma máscara de ouro pesando meio quilo. Desenterraram-se também diversas moedas, a ponto de Kitov fazer um brinde para festejar tantos achados: bem-humorado que é, o arqueólogo brindou com um cálice igualmente antigo e localizado nessa mesma região. Nem tudo, porém, tem sido comemorações. A mesma comunidade científica que se mostra maravilhada com o que brota do subsolo do Leste Europeu vem criticando Kitov pelo fato de ele preferir trabalhar com monstruosas escavadeiras e não com tradicionais pincéis e espátulas ? há o temor de que máquinas pesadas possam danificar os objetos. Os protestos acabaram causando-lhe a proibição de prosseguir com essas técnicas em suas explorações, mas a fenda estava aberta e outros arqueólogos e países do Leste Europeu seguiram a rota de escavações. Porta de entrada para o Oriente, ao longo da história da humanidade a região foi tomada sucessivamente por romanos, gregos e macedônios que mais tarde viram seu império ruir diante das invasões bárbaras dos trácios, godos e visigodos. Esses povos deixaram marcas no território e muitas delas continuam enterradas até hoje. Motivo: a maior parte desses países esteve até um passado recente sob domínio do regime comunista e tal sistema de governo jamais prestigiou o seu patrimônio arqueológico ? geralmente o julgava mera quinquilharia. Os tempos mudaram e agora Bulgária, Romênia, Hungria e Macedônia, entre outras nações, estão se abrindo às prospeções arqueológicas a ponto de oferecer incentivos aos pesquisadores ? os seus governos não cobram nenhuma taxa das equipes e isso é um grande atrativo se considerarmos que a Grécia, a Itália e o Egito, onde ficam os sítios mais conhecidos do mundo, costumam cobrar mais de US$ 60 por dia de trabalho nos locais históricos. Não bastasse isso, a corrida arqueológica ao Leste Europeu acaba de se tornar a grande notícia da revista Archaeology, bíblia da arqueologia em todo o mundo. Segundo a publicação, dos 33 maiores projetos arqueológicos em andamento no planeta, seis ficam nessa região. Financiados pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), dois exploradores brasileiros também rumam para o Leste Europeu: Marcos Caldas, da Universidade Federal Fluminense, e Francisco Marshall, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eles querem provar, sobretudo, que há semelhança entre os assentamentos do interior da Romênia e locais similares em outros países, acreditando que a influência dos grandes impérios do passado não se deu somente nos grandes centros, como imaginava ? ou seja, existe muita riqueza arqueológica nas regiões periféricas aos principais centros do Leste Europeu. ?Serão quatro anos de missão exploratória com modernos instrumentos de prospeção?, diz Caldas. ?Um deles, por exemplo, faz um raio X do que existe no subsolo, só que em três dimensões. Pelos métodos tradicionais precisaríamos de mais de uma década de trabalho.?