A Igreja Católica mostrou na semana passada, mais uma vez, que não está preparada, nem sequer disposta a enfrentar a chaga da pedofilia em suas entranhas. Em meio ao desconforto e à vergonha causados pelas centenas de vítimas de padres pedófilos espalhadas pelas dioceses do mundo, o Vaticano afirmou que não é necessariamente dever dos bispos denunciar situações de abusos sexuais por parte de elementos do clero. Cabe a eles apenas lidar internamente com as acusações. Quem deve denunciar formalmente a situação às autoridades são as vítimas ou as famílias das vítimas. Essa posição é contrária ao Comitê Pontifício para a Proteção de Menores, criado pelo papa Francisco para conter justamente essa escalada de abusos. Segundo essa comissão, denunciar esses casos é, acima de tudo, uma obrigação moral. Orientações tão divergentes, dentro das colunas da Praça São Pedro, mostram por que a Igreja Católica comandada pelo bem-intencionado Francisco continua omissa diante desses crimes pavorosos que continuam impunes. E, mais do que isso, seguem acontecendo nas paróquias pelo mundo.

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EM SEGUNDO PLANO
Nas instruções, pouco se fala sobre a prevenção aos novos casos de pedofila

A orientação de que os bispos não precisam denunciar tem sido dada durante o curso de formação de bispos recém nomeados. “De acordo com as leis civis de cada país onde a denúncia é obrigatória, não é necessariamente dever dos bispos entregar os suspeitos às autoridades, polícia ou procuradores, no momento em que tomam conhecimento destes crimes ou ações pecaminosas”, lê-se no documento. As instruções foram redigidas pelo padre francês Tony Anatrella, consultor do Concílio do Pontificado para a Família e conhecido por ter considerado que “a homossexualidade desestabiliza a sociedade”.

Nas mesmas instruções, são poucas as referências à prevenção do abuso sexual a menores no interior da Igreja Católica, o que deveria ser a prioridades


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