Logo que aceitou o convite para dirigir a Seleção Brasileira, uma dúvida veio à mente de Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga. Com que roupa se apresentar aos 180 milhões de técnicos-torcedores da Nação? Ele tinha duas certezas. Não queria a formalidade dos ternos de Vanderlei Luxemburgo e muito menos o despojamento dos abrigos que marcaram o visual de Mário Jorge Lobo Zagallo, Luís Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira, ex-comandantes recentes do escrete canarinho. Ao expor sua intenção num almoço em família, recebeu um providencial auxílio. Sua filha, a estudante de moda Gabriela Verri, 20 anos, resolveu assumir a tarefa de cuidar do visual do homem que ocupa o segundo cargo mais importante do País. E a jovem, que está no quarto semestre do curso na Universidade de Caxias do Sul (RS), está se saindo bem na missão de dar um toque de modernidade e elegância à estampa do sisudo técnico do time pentacampeão mundial. “Eu achava que terno ficava careta e o abrigo muito largadão. Por isso procurei um meio-termo. Queria algo moderno, mas que não perdesse a classe e o estilo”, diz a primeira estilista do futebol brasileiro.

A repaginação comandada por Gabriela começou a ser notada no amistoso em que o Brasil goleou a Seleção do Kuwait por 4 a 0. Durante a partida, realizada no Oriente Médio, Dunga desfilou pelo gramado do estádio vestindo uma ousada calça preta com uma faixa branca lateral da grife moderninha Iodice, do estilista paulistano Valdemar Iodice. Para compor o conjunto, uma camisa branca intencionalmente posta para fora da cintura. Peças compradas por Gabriela em descoladas lojas multimarcas de Porto Alegre. No dia seguinte ao jogo, em entrevista para o programa dominical Esporte Espetacular, da rede Globo, Dunga revelou que o novo estilo era obra da filha. A garota afirma que até agora o pai, um gaúcho que em seus tempos de jogador ficou famoso pela seriedade e cara feia que fazia aos adversários, aprovou todas as suas indicações. Até mesmo a de uma gravata cor-de-rosa que ela comprou para a viagem ao Kuwait e à Suécia, onde a Seleção venceu o Equador por 2 a 1 na última semana. “Agora quero comprar um terno do Ricardo Almeida. É para ele usar nas viagens”, revela a moça, referindo-se a um dos papas da moda masculina brasileira. Mas os palpites de Gabriela se restringem ao figurino. Ela admite que do esporte mesmo não entende quase nada. “O futebol é com meu irmão. Minha parte é só ajudar no vestuário. Mas sei que meu pai está indo bem”, confia. A moça tem razão. Até o momento o time de Dunga venceu quatro das cinco partidas que disputou. Uma delas foi uma categórica vitória sobre os arqui-rivais argentinos. Resultados tão alinhados quanto o estilo criado por Gabriela para o pai.

A jovem conta que o desejo de ser estilista vem de longe. Vanda, mãe da
estudante e esposa de Dunga há mais de 20 anos, lembra que desde pequena
ela vivia na companhia de agulhas, linhas e tesouras. “A Gabriela sempre gostou
de moda. Ficava imaginando e criando roupas para as bonecas”, comenta, orgulhosa. Gabriela se confessa fã dos estilistas brasileiros Alexandre Herchovitch
e Ronaldo Fraga, da dupla italiana Dolce & Gabbana e da inglesa Stella McCartney. Dentre os preferidos, no entanto, é o trabalho da filha do ex-beatle que mais a
inspira. “Ela faz roupas românticas, produzidas com tecidos leves e floridos. Uma moda bem feminina”, analisa.

Assim que terminar a faculdade, Gabriela pretende embarcar para uma temporada de estudos e desfiles em Milão, Paris e Nova York. Quando voltar, deseja abrir um ateliê em São Paulo. Mas antes disso tem um desafio quase tão grande quanto o de mudar o estilo do sisudo pai. “Quero ver se consigo mudar o visual do meu namorado, o Daniel. Ele veste roupas muito básicas, certinhas. E não quer mudar. Mas vou continuar tentando.” Se for persistente como o atual técnico da seleção brasileira, Gabriela terá sucesso.