Só agora, quarentona, a grife italiana Benetton resolveu estrear na passarela. Famosa em 120 países principalmente pela sua malharia em tricô e por suas audaciosas campanhas publicitárias – que chocaram os anos 80 e 90 como as imagens de um paciente de Aids agonizando e do beijo trocado entre um padre e uma freira –, a marca apresentou na última semana seu primeiro desfile no Centre Pompidou, prestigiado espaço parisiense da arte contemporânea. O tema? O futuro começa aos 40. Fundada em Treviso, a Benetton resolveu fazer sua festa na Cidade Luz, com 1.400 convidados. “Escolhemos Paris para as comemorações porque aqui não é nada menos do que a capital internacional da moda”, disse Luciano Benetton, o criador da marca.

Mas que ninguém se engane. A grife comandada por Luciano e seus irmãos – Giuliana, Gilberto e Carlo – não tem a intenção de integrar a semana de moda mais importante do planeta. Segundo os italianos, eles não precisam integrar o calendário fashion e disputar as atenções com os grandes estilistas. No Brasil, a grife deixou de aparecer na mídia por não ter uma operação comercial própria no País. Lá fora, porém, as campanhas continuam em pleno vapor. Aparentemente, estão funcionando. O balanço do grupo do primeiro semestre deste ano revela que a receita líquida foi de 898 milhões de euros, o que representa um aumento de 6,7% em comparação ao mesmo período em 2005.

Já que a empresa gosta de ser diferente, a família Benetton inovou na passarela de seu primeiro desfile. Não levou as tendências da próxima estação e não apresentou uma óbvia retrospectiva de sua história. Mostrou uma coleção única com o tema voltado aos sonhos. São criações atemporais e multiétnicas com ênfase na lã, alfaiataria e, claro, muitas cores vibrantes, marca registrada da Benetton. Esse desfile de tons da United Colors of Benetton, com modelos de diferentes etnias envergando as roupas, arregalou os olhos. Na primeira fila, algumas celebridades italianas e internacionais. O empresário da Fórmula 1 Flavio Briatore, a atriz Maria Grazia Cucinotta e Maria Berlusconi, filha do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi eram alguns dos conterrâneos da Benetton. O cineasta americano Spike Lee e a cantora Patti Smith também prestigiaram a grife quarentona. “Adorei a moda independente e eclética mostrada no desfile”, elogiou Patti, vestida com sobriedade.

O quinto andar do Pompidou foi reservado para uma sofisticada celebração. No prédio, uma construção dos anos 70, havia espaço para uma exposição multimídia paralela, com trabalhos realizados pela Fabrica, uma espécie de laboratório de criatividade mantido pela Benetton na Itália, no qual jovens podem exercitar seus talentos em áreas como design, fotografia e música. O evento foi um verdadeiro festival de atividades multiculturais. A parede envidraçada do Pompidou que enquadra a Torre Eiffel e a igreja de Sacre Coeur serviu de cenário para três shows surpresas. Além de Patti Smith, a cantora de jazz Dee Dee Bridgewater e o senegalês Youssou Ndour se revezaram ao palco. O tímido anfitrião da noite, Luciano – que precisa da constante ajuda de tradutores para conversar com os convidados que não falam italiano –, não resistiu ao chamado do músico Ndour. No meio da noite, levantou-se da mesa e, animado, dançou ao som do hit ‘Seven seconds’. “Nosso futuro está começando novamente. Aos 40, justamente aqui, como em 1969, quando abrimos no Boulevard St. Germain a primeira loja fora da Itália”, comentou, feliz como uma debutante.