A Irlanda é um dos países mais procurados pelos brasileiros que querem adquirir fluência na língua inglesa. E o programa Au Pair, destinado a jovens que recebem um valor semanal para fazer o papel de irmã mais velha e cuidar das crianças de famílias estrangeiras, é uma das alternativas mais buscadas pelas garotas que querem morar fora e precisam de um rendimento. O problema é que esse programa não é regulamentado na Irlanda como é, por exemplo, nos Estados Unidos e há cada vez mais relatos de casos assédios e exploração, a maioria envolvendo brasileiras – 75% dos casos em 2015. Segundo o National Employment Rights Authority (NERA), Au Pairs são como trabalhadores domésticos, ou seja, atuam como babás, mas também podem fazer serviços de casa e são cobertas pelas leis trabalhistas. Mais de 20 mil famílias irlandesas utilizam seus serviços.

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ABUSO
Bruna Saldanha e Letícia Barros: expulsas de casa e roubadas 

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Letícia Barros, 22, L.N, 27, e Bruna Saldanha, 22, foram para Dublin, capital irlandesa, para aprimorar o inglês. A primeira experiência como Au Pair foi triste e inesquecível para as três. Letícia ganhava 75 (R$ 334,5) euros por semana, L.N, 100 euros (R$ 446) e Bruna, 120 euros (R$ 535,2). As três faziam muito mais do que o serviço de babá: eram faxineiras e cozinheiras. Letícia não tinha dias de folga, foi obrigada a deixar a casa e não recebeu a última semana trabalhada. “Fiquei por três horas tocando a campainha e insistindo para buscar minhas coisas”, diz. Bruna ouviu insultos xenófobos e, quando decidiu sair de casa, teve seu notebook furtado. Hoje, as três conseguiram novas famílias para trabalhar e estão felizes. “Hoje, os pais me tratam com muito respeito e profissionalismo”, afirma Bruna.

Nos países em que são regulamentadas, as Au Pair são cobertas pelas leis trabalhistas, com direito a férias, feriados, horas extras e contratos por escrito. O salário mínimo é de 9,15 euros (R$ 40,8) por hora e se desconta semanalmente 54,13 euros (R$ 241) pela acomodação e alimentação. A reclamação de muitas brasileiras que trabalham na Irlanda é que algumas famílias fazem o contrato apenas verbal e usam o programa, que não é regulamentado, como fachada para pagar menos do que a lei exige para os trabalhadores domésticos. Existem muitos brasileiros que lutam para que o serviço de Au Pair seja formalizado na Irlanda e, assim, essas explorações tenham fim.