22/01/2016 - 19:00
A presidente Dilma Rousseff convidou na quarta-feira 20 seu vice, Michel Temer , para uma conversa– a primeira desde a carta que ele enviou a ela com queixas explícitas pelo tratamento a que vinha sendo submetido. Do alto dos seus 75 anos, o político saiu do encontro, que durou cerca de uma hora, mais esvaziado do que entrou. E com a certeza de que não se pode, de modo algum, falar em “reaproximação” entre os dois. No tête-à-tête, não houve qualquer sinal do governo para que Temer participasse da condução ou sequer da discussão de questões do País.
JOGO DE CENA?
Para aliados de Temer, vice foi usado para que Dilma pudesse
transmitir ao País a impressão de normalidade institucional
Para interlocutores do presidente do PMDB, o convite de Dilma esteve repleto de armadilhas e segundas intenções. Primeiro, segundo aliados de Temer, ela teria usado o vice para demonstrar ao Brasil a impressão de normalidade institucional, já que não é comum que presidente e vice não se falem. O gesto da petista também foi lido por peemedebistas próximos do vice como uma tentativa de demonstrar força, ao indicar que o movimento pró-impeachment estaria em parte equacionado, o que na avaliação deles não seria verdade. Do mesmo modo, ao simular uma bandeira branca a Temer, ela o teria inibido de tecer críticas públicas ou fazer movimentos que soem como conspiração para tirá-la do poder. De acordo com um peemedebista de alta patente no Congresso, “o que Dilma fez foi um ’cerca Lourenço’. O chamou lá para não dizer nada. Foi nitidamente um jogo de cena”. Como se nota, o encontro não foi bem recebido no Palácio do Jaburu.
A anfitriã teve apenas 15 minutos a sós com seu convidado. Depois, integraram-se ao convescote os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. Foi neste momento que o vice sugeriu que o governo deveria ouvir mais a sociedade. “Ouvir mais do que falar”, afirmou. E nos 20 minutos finais trataram de amenidades, como literatura e cinema.
Apesar de não ter se convencido dos sinceros desejos presidenciais de reaproximação, disseram pessoas próximas a Temer, o vice jamais recusaria o convite ou se absterá dos próximos. Até porque, por razões políticas, o peemedebista não quer saber de sobressaltos. Em seu horizonte, está a reeleição ao comando do PMDB e a disputa interna de seu partido para escolher o líder da bancada da sigla na Câmara dos Deputados.