A presidente Dilma Rousseff convidou na quarta-feira 20 seu vice, Michel Temer , para uma conversa– a primeira desde a carta que ele enviou a ela com queixas explícitas pelo tratamento a que vinha sendo submetido. Do alto dos seus 75 anos, o político saiu do encontro, que durou cerca de uma hora, mais esvaziado do que entrou. E com a certeza de que não se pode, de modo algum, falar em “reaproximação” entre os dois. No tête-à-tête, não houve qualquer sinal do governo para que Temer participasse da condução ou sequer da discussão de questões do País.

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JOGO DE CENA?
Para aliados de Temer, vice foi usado para que Dilma pudesse
transmitir ao País a impressão de normalidade institucional

Para interlocutores do presidente do PMDB, o convite de Dilma esteve repleto de armadilhas e segundas intenções. Primeiro, segundo aliados de Temer, ela teria usado o vice para demonstrar ao Brasil a impressão de normalidade institucional, já que não é comum que presidente e vice não se falem. O gesto da petista também foi lido por peemedebistas próximos do vice como uma tentativa de demonstrar força, ao indicar que o movimento pró-impeachment estaria em parte equacionado, o que na avaliação deles não seria verdade. Do mesmo modo, ao simular uma bandeira branca a Temer, ela o teria inibido de tecer críticas públicas ou fazer movimentos que soem como conspiração para tirá-la do poder. De acordo com um peemedebista de alta patente no Congresso, “o que Dilma fez foi um ’cerca Lourenço’. O chamou lá para não dizer nada. Foi nitidamente um jogo de cena”. Como se nota, o encontro não foi bem recebido no Palácio do Jaburu.

A anfitriã teve apenas 15 minutos a sós com seu convidado. Depois, integraram-se ao convescote os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. Foi neste momento que o vice sugeriu que o governo deveria ouvir mais a sociedade. “Ouvir mais do que falar”, afirmou. E nos 20 minutos finais trataram de amenidades, como literatura e cinema.

Apesar de não ter se convencido dos sinceros desejos presidenciais de reaproximação, disseram pessoas próximas a Temer, o vice jamais recusaria o convite ou se absterá dos próximos. Até porque, por razões políticas, o peemedebista não quer saber de sobressaltos. Em seu horizonte, está a reeleição ao comando do PMDB e a disputa interna de seu partido para escolher o líder da bancada da sigla na Câmara dos Deputados.