15/01/2016 - 20:00
Peemedebista de ascensão meteórica dentro do governo e do próprio partido, o que motivou inúmeras críticas, o ex-deputado federal Celso Pansera assumiu o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação há apenas três meses, mas já se envolveu em muita confusão.
CRÍTICA
”O PMDB não tem hoje uma identidade clara”
O ministro viu seu nome ser associado ao escândalo da Petrobras e sua casa chegou a ser alvo de busca e apreensão por parte da Polícia Federal, episódio que ele classifica como “desconfortável”.
”O meu passado político não tem vínculo com o Eduardo Cunha.
Também não tive relação com que o aconteceu na Petrobras”
Nesta entrevista, Pansera dá sua versão sobre o ocorrido e comenta as disputas internas no PMDB, afirmando inclusive que o partido vive uma crise de identidade e que precisa fazer algo a respeito. Embora seja parte integrante do governo, o ministro verbalizou o que a maioria dos brasileiros pensa a respeito do País. “A economia do Brasil está na lama”, afirmou.
”Michel Temer reflete todas as contradições do PMDB
e virou o muro das lamentações do partido”
O sr. foi alvo de um mandado de busca e apreensão pela operação Catilinárias, no final do ano passado. O que houve?
Eu li o pedido do procurador Rodrigo Janot e também a decisão do STF. Toda a argumentação do procurador é de que a minha ação na CPI da Petrobras foi para ajudar o Eduardo Cunha a protelar a investigação. Eles se basearam na convocação da advogada Beatriz Catta Preta à CPI, na quebra de sigilo dos familiares do (doleiro) Alberto Youssef e na contratação da Kroll para fazer a investigação da CPI no exterior. Com esta última, eu realmente não tenho nada a ver.
E com as outras?
As outras duas são ações minhas, que considero legítimas diante de minha atuação como deputado. O procurador não tem a obrigação de me conhecer pessoalmente, nem de saber que o meu passado político não tem nenhum vínculo com o Eduardo. Obviamente, eu não concordo com ele, mas é para isso que existem os poderes constituídos independentes.
A advogada Catta Preta declarou ter se sentido intimidada pela CPI.
Ela sabe com quem negociou. Eu não sei. Se alguma coisa a assusta, o problema é dela, não meu.
O sr. estava em casa quando houve a busca e apreensão?
Não estava. Fiquei sabendo depois que a polícia saiu. É uma situação bem desconfortável. Nunca tive problema com a polícia. Aliás, nunca tive nenhum processo, nunca fui acusado de nada. Não tem nenhum delator dizendo que eu tenha feito qualquer coisa na Lava Jato. Não tive nenhuma relação com tudo o que ocorreu na Petrobras. Eu era professor e não tinha nada a ver com esse negócio, não possuía nenhuma relação com aquelas pessoas. Conheci os envolvidos na Lava Jato apenas durante a CPI.
Para criticá-lo, muita gente diz que o sr. teve uma “ascensão meteórica” dentro do PMDB. Como recebe esse tipo de afirmação?
Eu acho que a crítica se deve ao desconhecimento da minha carreira e da minha vida. Ninguém tem a obrigação de me conhecer. Cabe a mim ir esclarecendo. Como fui à CPI a convite do Leonardo [Picciani], e lá tive uma atuação muito forte e tomei iniciativas que julgava necessárias, isso causou um desconforto. E depois vim para o Ministério. Aí ficava todo mundo se perguntando “de onde surgiu esse cara?”.
Qual é a sua opinião sobre a crise que se intensificou, nos últimos meses, no PMDB?
O PMDB é o partido que sofre mais com a crise política deflagrada no País com as manifestações de 2013. Ali começou um forte questionamento popular sobre os serviços públicos e a legitimidade de todo o nosso sistema político. Essa crise ainda está aberta, porque não houve uma renovação nem nos quadros, nem na estrutura da política brasileira.
O sr. acha que é possível resolver essa questão?
O PMDB, como maior partido do País e no centro do eixo político brasileiro, sofre essa pressão social. Ele não tem uma identidade clara. Isso gera uma forte disputa de hegemonia interna no partido.
Entre governistas e oposicionistas?
A questão do impeachment é uma parte desse processo, que diz para onde o partido vai e qual é o seu projeto. É com a oposição, que já governou o País com o apoio do PMDB? Ou é com o atual governo, do qual o PMDB faz parte há 11 anos? O partido sofre pressão do setor que está no governo hoje com um projeto político mais à esquerda e do pessoal da oposição, mais à direita. Não é tão fácil assim dizer que é um partido oportunista ou aderente ao poder. Ele tem um problema porque é grande e antigo.
Qual é o seu papel na saída da crise para PMDB?
Ajudar a construir uma hegemonia política dentro daquilo que eu acredito que é o mais correto para o Brasil, que é o bloco que está no governo desde 2003 e que tem um foco voltado para o lado social. Quero unificar o partido, mas ao mesmo tempo não posso deixar de fazer o debate sobre o papel dele. Isso se resolve com o tempo. Tempo de o País sair da crise política e de o sistema político brasileiro retomar sua credibilidade.
Como o sr. vê a postura do vice-presidente Michel Temer neste processo?
Acho que o vice Michel Temer reflete todas essas contradições. É ele quem mais sofre a pressão. Afinal, é o presidente do partido e vice-presidente da República. Michel virou o muro das lamentações do partido.
O que achou da famosa carta enviada por Temer à presidente?
Prefiro não falar sobre isso.
Existe uma disputa real pelo comando do partido?
Existe uma disputa de projeto de posicionamento ideológico que pode levar à disputa pela direção do partido. A gente percebe que alguns setores do PMDB se movimentam para isso. No Senado fica mais claro. Não ouvi o Renan (Calheiros, senador) falar abertamente sobre isso, mas a gente lê na imprensa.
Como o senhor avalia a atual crise econômica?
A economia do País está na lama, mas estamos tentando sair. A área de inovação, sobretudo, tem de ser pressionada. Aprovamos um novo código, com um regime diferenciado para importação de material para pesquisa. Tem uma compreensão do governo, e isso ficou muito claro nas reuniões que tive com a presidente, de que a inovação tecnológica precisa ser preservada. Até o fim de janeiro, será anunciado um conjunto de iniciativas que envolverá de R$ 3 a R$ 4 bilhões para financiar isso.
Após pouco mais de três meses à frente do Ministério, que avaliação o sr. faz do desenvolvimento tecnológico no Brasil?
O Brasil precisa definir qual é o seu objetivo de futuro. Eu citaria algumas áreas em relação às quais há uma expectativa muito grande no mundo sobre o futuro do País: energias limpas e renováveis, biotecnologia e segurança alimentar. Se o Brasil se concentrar nessas áreas, ele pode ser o celeiro do mundo, com produtos de alto refinamento tecnológico. Há também a área espacial, em que podemos nos tornar um dos cinco melhores polos mundiais. Por fim, também devemos avançar muito no setor de fármacos.
Como tem sido a atuação do Ministério no combate à dengue e ao zika vírus?
Nós reunimos as melhores experiências de pesquisa no combate ao mosquito Aedes Aegypti e vamos fazer um grande movimento, em parceria com os institutos de pesquisa brasileiros. Queremos avançar com rapidez numa estratégia capaz de agregar um grande esforço nacional a partir do no nosso ministério, para pesquisas de vacinas e formas de combate. O que se tem hoje são diversas iniciativas isoladas e nós achamos que, se unificarmos isso num grande programa, teremos o volume de recursos necessário.
A nova fase do programa Ciências Sem Fronteiras ainda não está definida. O programa está financeiramente ameaçado?
Existe uma vontade do governo de fazer a nova fase e eu acredito que fará, porque o programa traz resultados.
Mas o programa sofreu diversas críticas.
Por isso que nós estamos redesenhando o formato. Foi um movimento muito grande e não havia uma experiência anterior para isso. Então, é óbvio que, ao receber reitores, visitar os países, encontrar os estudantes no exterior, façamos uma nova síntese. Agora, precisamos investir mais em cursos de pós-graduação e definir quais são as estratégias de crescimento para o País.