Uma onda de violência sexual na noite de Ano Novo provocou nova crise para os refugiados na Alemanha. Na semana passada, as redes sociais começaram a mostrar os primeiros casos de assédio, então acobertados por uma imprensa relutante em inflar o discurso xenófobo. Em Colônia, epicentro do escândalo, foram registradas 550 denúncias de crimes na virada do ano – quase metade deles sexuais. Dos 31 suspeitos, 18 foram identificados como refugiados em busca de asilo. Como era de se esperar, a estigmatização dos imigrantes como criminosos levou extremistas a atacar estrangeiros, derrubou o apoio da opinião pública aos refugiados e levou os alemães a se questionar se os valores do Islã podem ser compatíveis com os europeus. No ano passado, no auge da crise, quando mais de 3 mil pessoas morreram tentando atravessar o Mediterrâneo, a chanceler alemã, Angela Merkel, facilitou os pedidos de asilo para os sírios e 1,1 milhão foram aceitos no país.

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REAÇÃO
Apesar de protestos nacionalistas como o que ocorreu em Leipzig
na segunda 11, Merkel não reviu a política para refugiados

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“Agora começa a fase sem ilusões”, disse à ISTOÉ Josef Janning, chefe do escritório do European Council on Foreign Relations em Berlim. “Os analistas já sabiam que as reais dificuldades viriam com a integração de um grande número de recém-chegados, com a necessidade de acompanhar mais de perto aqueles que estão vindo e implementar as decisões negativas, que é mandar para casa quem não tem direito a asilo político.” Para reduzir os ruídos dessa integração, alguns países têm dado lições aos imigrantes sobre como tratar uma mulher. Segundo Andreas Capjon, coordenador dos cursos de educação da Hero Norge, da Noruega, a maioria dos alunos são homens em busca de asilo. “Muitos códigos culturais não lhes são familiares e, várias vezes, eles ficam confusos sobre como interpretá-los”, afirma. “A integridade física é um valor absoluto, mas entender as fronteiras entre o que é voluntário e involuntário é algo baseado na sensibilidade cultural, e isso pode ser treinado e reforçado em cursos como os nossos.”

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Para Debjani Roy, porta-voz do Hollaback, um movimento internacional contra o assédio nas ruas, o que mais chama a atenção nos casos recentes é a amplitude dos ataques, o que indica que muitos deles possam ter sido coordenados. “O assédio em espaços públicos é comum no mundo todo, não é uma questão demográfica”, diz. “Culpar somente os imigrantes por esse fenômeno não é correto.” Numa pesquisa realizada pelo Hollaback em 2014, 66% das alemãs entrevistadas disseram ter sido apalpadas contra a vontade ao menos uma vez durante aquele ano e mais da metade já mudou de caminho ou horário para evitar abusos. Na semana passada, o governo alemão endureceu e anunciou que imigrantes condenados por crimes sexuais serão deportados. Merkel, no entanto, não deu sinais de que mudou de ideia sobre sua política de acolhimento de refugiados. “Se um continente como a Europa, com 500 milhões de pessoas, é incapaz de receber um milhão de sírios, talvez temporariamente, então isso não está de acordo com nossos valores”, disse.

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Fotos: Tobias Schwarz/AFP; REUTERS/Fabrizio Bensch; AP Photo/Emrah Gurel 


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